Diante das ameaças de Trump, 'a solução é a integração latino-americana'
O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, realizará sua primeira viagem a América Latina atraindo o foco das atenções já que o Panamá e seu movimentado canal tem sido alvo de ameaças por parte do presidente Donald Trump
"Nós nunca permitiremos que caia em mãos erradas! Foi entregue como um símbolo de nossa cooperação com o Panamá, não para o benefício de outros. A menos que os princípios, tanto morais quanto legais, deste gesto magnânimo de entrega sejam respeitados , exigiremos que o Canal do Panamá nos seja devolvido, em sua totalidade e sem questionamentos", disse Trump semanas antes de retornar à Presidência dos EUA.
O governo panamenho, liderado por José Raúl Mulino, disse que defenderá a soberania do país e seu direito ao canal. Vários países latino-americanos expressaram sua solidariedade a essa posição, incluindo o México, nação que também foi ameaçada por Donald Trump com deportações em massa e tarifas de 25%.
'Trump acreditou no conto do Destino Manifesto'
Em entrevista à Sputnik, o cientista político e analista venezuelano Martín Pulgar disse que o político republicano é um empresário e um negociador em todas as áreas, então suas ameaças em relação ao canal do Panamá são uma forma de "atacar" para depois negociar politicamente.
"Trump é realmente um dos atores do Estado Profundo dos Estados Unidos (...) Um bilionário, como todos os que o acompanham, e é ele quem busca decidir o destino dos Estados Unidos... Ele acredita no conto do Destino Manifesto", comentou o especialista.
Segundo Martín Pulgar, Washington está ciente de que tem outros concorrentes ao redor do mundo além da Rússia e da China e, portanto, buscará manter seu papel de liderança como potência global a todo custo.
"Diante da perda de sua influência hegemônica, os Estados Unidos são capazes de agir e destruir se não continuarem sendo o ator principal, porque sabem que, em um mundo em mudança, outros terão poder em diferentes áreas e poderão até superá-los. Enquanto isso, eles tentarão manter cartas de negociação suficientes."
Por outro lado, ele esclareceu que enfrentar os Estados Unidos não é uma tarefa fácil, pois envolve custos que as nações nem sempre estão dispostas a assumir.
'A solução é a integração latino-americana'
Ele acrescentou que os Estados Unidos estão considerando a reindustrialização, embora no passado tenha sido esse mesmo país que forçou nações como a China a se tornarem locais de trabalho. No entanto, lembrou o especialista, a China posteriormente se estabeleceu como uma potência comercial com suas próprias tecnologias.
"[Trump] está propondo a reindustrialização e [ele quer que os EUA se tornem] um país que exporte novamente, porque antes [os EUA] eram a fábrica do mundo e depois foram substituídos pela China", disse ele.
Mas para competir com o gigante asiático, disse Pulgar, os custos precisam ser reduzidos por meio de mão de obra barata, "e como pode não ser possível conseguir isso porque não a tem, então esses custos diminuem se o canal do Panamá reconsiderar uma taxa fixa, barata ou até gratuita."
Diante dessa possibilidade, o analista destacou que a América Latina precisa fortalecer suas capacidades.
"A solução é uma integração latino-americana que ponha fim a [Trump], uma frente comunitária contra os Estados Unidos", disse o especialista, que lembrou que já existem mecanismos para isso, como a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos. (CELAC) e a União das Nações Sul-Americanas (UNASUL).
Sobre se a região poderia consolidar essa união, Martín Pulgar destacou que o próprio Trump e sua visão expansionista poderiam acelerar esse processo, caso a América Latina começasse a se sentir cada vez mais ameaçada pela Casa Branca.
"Não há nada que impulsione mais um processo de integração do que uma ameaça de um valentão. A política é a arte do impossível."
Por Sputinik Brasil