'Muito peso simbólico, mas pouco tangível': Milei lidera a cúpula da CPAC na Argentina
O presidente argentino, Javier Milei, encerrou nesta quarta-feira (4) a Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC) realizada em Buenos Aires, capital da Argentina, com críticas à esquerda e ao que chamou de "terror" do "socialismo".
O evento contou com a participação virtual do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro, com a presença o deputado Eduardo Bolsonaro, do líder do Vox, Santiago Abascal, e da republicana Lara Trump, nora do presidente eleito dos EUA.
Em seu discurso de cerca de uma hora, Milei afirmou que a esquerda tem gerado miséria onde assume o poder:
"Se infiltraram nas universidades, nos meios de comunicação e na cultura. Se organizaram politicamente e foram muito bem-sucedidos. Como suas ideias são um terror, onde quer que vão, geram miséria. Isso abriu a oportunidade de que, hoje no mundo, com Trump, Bukele e nós, respiramos novos ventos de liberdade", exclamou o presidente argentino.
Sob o lema de reivindicar a "importância de um governo limitado, o capitalismo de mercado livre, a responsabilidade individual e a preservação do patrimônio cultural e religioso", a CPAC reuniu líderes, jornalistas, comunicadores e empresários identificados com a "batalha cultural" travada pelas novas direitas.
CPAC
Cúpula organizada pela União Conservadora Americana, a associação foi fundada em 1964 e é considerada o fórum de direita mais antigo dos Estados Unidos. Em 13 de novembro, Milei viajou ao gigante norte-americano para participar da segunda reunião anual do fórum, onde teve um encontro informal com Donald Trump e com o magnata sul-africano Elon Musk.
A convergência dessas figuras em solo argentino não é um detalhe menor: trata-se da primeira edição da conferência realizada fora dos Estados Unidos, um fato comemorado pelo chefe de Estado local como um reconhecimento de sua figura em nível global.
"O presidente Milei está liderando o mundo para uma nova era de ouro", afirmou durante sua fala o apresentador norte-americano Ben Shapiro.
Durante sua mensagem gravada, Bolsonaro (2019-2023) parabenizou o anfitrião e afirmou que "Milei mostrou ao mundo que chegou para mudar a Argentina".
Embora o encontro tenha buscado reunir figuras de peso a nível global, Milei foi o único presidente a participar da cúpula.
Uma cúpula desvalorizada?
"A CPAC tem muito peso simbólico, mas pouco tangível: ela reforça a narrativa das novas direitas, mas não implica em efeitos concretos a nível geopolítico. Esse tipo de encontro é organizado como uma franquia de algo maior, cuja importância é muito mais retórica do que prática", disse à Sputnik o analista internacional Gonzalo Fiore Viani.
"O fato de Trump ter decidido enviar uma figura de segunda ou terceira linha reflete a pouca relevância global da cúpula. É mais um evento para celebração interna do que para projetá-lo no cenário mundial", afirmou o especialista.
Segundo o pesquisador, apesar da retórica conservadora generalizada, o encontro reuniu líderes com ideias notavelmente diferentes.
"Há diferenças claras entre figuras como Trump e Milei, ou mesmo Giorgia Meloni e Jair Bolsonaro: uns são mais protecionistas, outros menos, e depois há o argentino que quer destruir diretamente o Estado, uma ideia ausente em outras figuras", afirmou o acadêmico.
"A convergência entre esses líderes se explica mais pela oposição à agenda progressista do que pela coincidência em ideias básicas: todos se opõem ao multilateralismo e à chamada 'Agenda 2030' da ONU, responsabilizando o progressismo pelos males desses tempos. Não os une o amor, mas o medo", sintetizou o analista.
O principal vencedor
Para Fiore Viani, o fato de a União Conservadora Americana ter decidido levar sua cúpula principal para o país austral apenas "reafirma que Milei já é uma referência global para essas ideias disruptivas, e agora está capitalizando sua influência internacional, que é inegável".
No entanto, segundo o especialista, a relevância do presidente responde principalmente ao papel que desempenha aos olhos da Casa Branca.
"Milei é reconhecido por Donald Trump como seu candidato na América Latina para reforçar o peso de Washington na região, como uma porta de acesso a uma área governada, majoritariamente, por presidentes progressistas como Lula Da Silva, Gustavo Petro ou Claudia Sheinbaum", afirmou o pesquisador.