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Resposta do Carrefour sobre carnes do Mercosul impacta mercado e deve custar caro aos franceses

Alexandre Bompard, CEO do Carrefour, anunciou que o grupo francês suspenderá a compra de carne do Mercosul, em solidariedade com os agricultores que se opõem ao acordo de livre comércio entre União Europeia (UE) e o bloco sul-americano.

Publicado em 25/11/2024 às 16:55
© Folhapress / Celio Messias

O Carrefour é um dos principais players no setor varejista no Brasil, um mercado que representa o segundo maior de suas operações no mundo. O anúncio gerou reações diversas, especialmente considerando que o Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de carne do planeta.

Empresas brasileiras, a exemplo da JBS, já anunciaram a suspensão do fornecimento de carne ao grupo.

A declaração de Bompard foi prontamente repudiada por um grupo de mais de 40 entidades, que expressaram sua indignação em uma nota divulgada no dia 23 de novembro. O grupo criticou a postura do Carrefour, acusando-o de desconsiderar o compromisso do Brasil com as boas práticas agrícolas e a sustentabilidade.

O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) também se manifestou contra a decisão, reafirmando a qualidade da produção agropecuária nacional e sua conformidade com a legislação brasileira e as normas internacionais.

Em nota oficial, o ministério defendeu que "a qualidade e compromisso da agropecuária brasileira com a legislação e as boas práticas agrícolas, em consonância com as diretrizes internacionais".

Além da repercussão negativa no setor agropecuário, a atitude do Carrefour vem somar-se a um histórico de problemas da empresa no Brasil, incluindo questões envolvendo racismo e conflitos trabalhistas.

A medida do Carrefour está sendo interpretada por muitos como uma resposta a pressões externas, especialmente de grupos internacionais ligados a questões ambientais e de direitos humanos. A suspensão das compras de carne do Mercosul pode ser vista como uma tentativa da empresa de alinhar suas práticas às demandas de um mercado global mais consciente, mas também levanta questionamentos sobre as consequências econômicas para os produtores brasileiros e as possíveis implicações de sua postura para a sua reputação no Brasil.

Conhecida por seu protecionismo, a França é o principal entrave para a assinatura do acordo de livre comércio entre União Europeia e Mercosul, cujas negociações se arrastam há décadas. Países como a Alemanha chegaram a defender retirada da necessidade de consenso entre os membros do bloco para aprovar a medida.

Confira a nota na íntegra

"Nós, as entidades representativas da cadeia produtiva brasileira, manifestamos nosso profundo repúdio às declarações recentes sobre a suspensão da compra de carnes do Mercosul pelas lojas Carrefour na França. Consideramos esta posição não apenas infundada, mas também desprovida de coerência com os princípios do livre mercado, da sustentabilidade e da cooperação internacional.

A decisão anunciada demonstra uma abordagem protecionista que contradiz o papel de uma empresa global com operações em mercados diversos e interdependentes. Tal posicionamento, além de desvalorizar a qualidade e a sustentabilidade das carnes produzidas nos países do Mercosul, prejudica o diálogo e a parceria necessária para enfrentar desafios globais como a segurança alimentar.

O Brasil, por sua vez, é referência mundial na produção e exportação de proteínas animais. Somos líderes globais na exportação de carne bovina e de frango, e nossa produção é amplamente reconhecida pela excelência, sendo abastecida por rigorosos controles sanitários e padrões de qualidade que atendem a mais de 160 países, incluindo mercados exigentes como União Europeia, Estados Unidos, Japão e China.

Nos últimos 30 anos, a pecuária brasileira aumentou sua produtividade em 172%, enquanto reduziu a área de pastagem em 16%. Esses avanços foram possíveis graças a um compromisso contínuo com a inovação, eficiência produtiva e práticas sustentáveis. Além disso, nossa legislação ambiental é uma das mais rigorosas do mundo, assegurando o equilíbrio entre produção agropecuária e preservação dos recursos naturais.

As áreas dedicadas à preservação da vegetação nativa pelo agro brasileiro somam 282,8 milhões de hectares, representando 33,2% do território do Brasil. Para se ter uma ideia, essa área equivale a um pouco mais de quatro vezes o território da França ou quase oito vezes o território da Alemanha. O Brasil preserva mais do que o dobro da área destinada à preservação ambiental em comparação com a França, um dado que questiona a postura crítica do Carrefour em relação à nossa produção.

A exclusão injustificada de produtos do Mercosul do mercado francês não apenas subestima a relevância de nossas exportações, mas também limita o acesso dos consumidores europeus a produtos de alta qualidade, mais seguros e sustentáveis. Além disso, tal atitude pode gerar inflação e aumentar as emissões de carbono devido ao transporte de mercadorias locais menos eficientes.

Se uma carne brasileira não serve para abastecer o Carrefour na França, é difícil entender como ela poderia ser considerada adequada para abastecer qualquer outro mercado. Afinal, se o Brasil, com suas práticas sustentáveis, sua legislação ambiental rigorosa e sua vasta área de preservação, não atenderia aos critérios do Carrefour para o mercado francês, então, provavelmente, não atenderia aos critérios de nenhum outro país.

Reafirmamos nosso compromisso com a produção responsável, sustentável e orientada para atender às necessidades dos mercados globais. Considerando que empresas globais como o Carrefour, que operam amplamente no Brasil e dependem de sua produção para abastecer mercados de todo o mundo, devem atuar com base em princípios de cooperação, transparência e respeito ao livre mercado".

Por Sputinik Brasil