MERCADO

Taxas de juros sobem com piora nas medianas de IPCA no Boletim Focus e receio fiscal

Publicado em 18/11/2024 às 18:38
Taxas de juros sobem com piora nas medianas de IPCA no Boletim Focus e receio fiscal Reproduçâo

Os juros futuros fecharam a sessão em alta, na contramão da queda do dólar e da melhoria no mercado de Treasuries no decorrer da sessão. Os investidores seguiram repercutindo a piora das estimativas de IPCA na pesquisa Focus e a precificação da Selic terminal na curva de juros já bateu nos 14,25%. É crescente a percepção de que apenas a divulgação de um pacote de gastos, o que não deve ocorrer antes de quinta-feira, que seja crível é capaz de alterar a dinâmica das taxas.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 aumentou de 13,18% na quinta-feira para 13,30% e a do DI para janeiro de 2027, de 13,35% para 13,46%. Esses são os maiores níveis de fechamento desde 19/12/2022, quando encerraram em 13,68% e 13,62%. O DI para janeiro de 2029 fechou com taxa de 13,24% (de 13,18%).

Os resultados da pesquisa Focus comprometeram bastante o comportamento das taxas, num ambiente externo marcado pelo pessimismo com relação à trajetória dos juros nos EUA. A sinalização do Federal Reserve na semana passada de uma distensão monetária mais branda somada à perspectiva para a política fiscal da gestão Donald Trump são fatores negativos para o fluxo de capital para economias emergentes.

Pela manhã, o rendimento do T-Bond de 30 anos subiu ao maior nível desde 31 de maio, para 4,677% e o T-Note de dez anos voltou a se aproximar dos 4,50%. À tarde, as perdas foram impetuosas, mas os DIs não acompanharam.

"A taxa longa americana deve permanecer ainda em patamar um pouco mais elevado, semelhante ao que a gente está observando. Não só pela expectativa de uma aceleração da economia lá e de uma inflação que pode ficar resiliente, como também o Fed deve estar estável ainda mais as compras de títulos. Isso acaba ajudando o pré a subir”, afirmou o estrategista de renda fixa da BGC Liquidez Daniel Leal.

Ele comentou que na ponta longa também pesa “o que poderá vir do pacote fiscal”, apesar das últimas notícias relativamente positivas. Ontem, em entrevista à CNBC, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que as medidas estão prontas, mas à espera de um ajuste relacionado ao Ministério da Defesa. “Está fechado com o presidente o conjunto de medidas e vamos anunciar em breve”, disse Haddad, sobre qual o pacote foi aprovado por Lula com o tamanho que a Fazenda apresentou. A expectativa do mercado é de um ajuste de R$ 70 bilhões nos próximos dois anos, por meio de medidas estruturais como as mudanças na regra do salário mínimo.

Neste sentido, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou, durante evento de hoje em São Paulo, que o ideal é que o pacote se concentre especificamente na questão dos cortes, sob o risco de "interditar" o processo de melhoria de percepção dos agentes com a política fiscal. “O mercado entende hoje que para ter efeito de choque positivo tem que ser baseado mais em corte de gasto do que receita”, frisou.

Leal, do BGC, afirma que os vencimentos mais curtos refletiram a dúvida sobre como o Copom vai lidar com o elevado nível de desancoragem das expectativas de inflação. Na Pesquisa Focus, as principais medianas para o IPCA avançaram e se distanciaram ainda mais da meta de 3%. A de 2024 passou de 4,62% ​​para 4,64%; de 2025, de 4,10% para 4,12%; 2026 de 3,65% para 3,70%; e 12 meses à frente, de 4,09% para 4,14%.

“Esses aumentos nas expectativas de inflação são parcialmente explicados pelas projeções de um câmbio mais fraco, consequentemente empurrando as estimativas para taxas de juros a níveis ainda mais elevados”, afirma a equipe do Citi. A mediana para câmbio subiu de R$/US$ 5,55 para R$/US$ 5,60 em 2024 e de R$/US$ 5,48 para R$/US$ 5,50 em 2025. A de Selic para este ano apareceram em 11,75% e para 2025 subiram de 11,50% para 12,00%.

Mas a precificação dos DIs nesta tarde ia muito além disso, projetando terminal Selic de 14,25% em novembro de 2025, segundo o economista-chefe do banco Bmg, Flávio Serrano. Para o Copom de dezembro, a curva indicava alta de 73 pontos, ou quase 100% de chance de abertura de 75 pontos.

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