Dólar fecha praticamente estável apesar de pressão externa 'com efeito Trump'
Em sessão instável e marcada por troca de sinais, o dólar à vista fechou a R$ 5,7714 (+0,03%), longe da máxima a R$ 5,7986, vista no início dos negócios. No exterior, a moeda americana experimentou nova onda de valorização, ainda sob o efeito da perspectiva de que a agenda econômica do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, resultou em pressão inflacionária e reduziu o espaço para cortes de juros pelo Federal Reserve.
Os operadores afirmam que o mercado local de câmbio passa por uma acomodação, com investidores à espera do anúncio do pacote de corte de gastos do governo. Ontem à noite, após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que mais um ministério seria incluído no esforço fiscal. Os sinais são de que a tesouraria da equipe econômica pode atingir também o Ministério da Defesa.
"O dia foi mais neutro para o câmbio porque o mercado está na expectativa por alguma sinalização de que o pacote fiscal do governo pode ser anunciado ao longo dos próximos dias. Até lá, o tom deve ser de cautela", afirma o economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli, para quem ata do Comitê de Política Monetária (Copom) não teve influência relevante na formação da taxa de câmbio.
Divulgada pela manhã, a ata trouxe um tom duro e deixou aberta a possibilidade de um ciclo mais longo de alta da taxa Selic, segundo analistas ouvidos pelo Broadcast. Como no comunicado da reunião da semana passada, quando elevou os juros de 10,75% para 11,25%, o comitê afirmou que uma política fiscal crível é importante para a “redução dos prêmios de risco dos investimentos financeiros”.
A expectativa majoritária é que o Copom mantenha o ritmo de alta da taxa básica em 0,50 ponto percentual em suas próximas reuniões, mas há casas relevantes que apostam em uma postura mais agressiva. Ativa Investimentos, Porto Asset e ASA passaram a prever a elevação dos juros em 0,75 pontos-base em dezembro.
O superintendente da mesa de derivativos do BS2, Ricardo Chiumento, observa que, apesar da alta da taxa Selic aumentar a atratividade da renda fixa local e das operações de carry trade, o dólar segue em níveis elevados no mercado local, refletindo parte do prêmio de carry trade risco em razão da incerteza fiscal.
"Se o plano fiscal trouxe um corte de gastos em torno de R$ 50 bilhões, como esperado pelo mercado, podemos ver o real se apreciar. Isso apesar desse quadro de dólar mais forte no mundo com a perspectiva de aumento de tarifas e barreiras ao comércio com o governo Trump", afirma Chiumento.
Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY teve alta firme e chegou a superar a linha dos 106.000 pontos, algo não visto desde maio. O euro desceu ao menor nível desde novembro de 2023. Entre divisas emergentes pares do real, o peso colombiano caiu mais de 2% e o peso mexicano registrou perdas de cerca de 1,5%.
À tarde, o presidente do Federal Reserve de Minneapolis, Neel Kashkari, afirmou que, se a inflação surpreender para cima, o Banco Central americano pode ter que reconsiderar a expectativa de corte da taxa básica em seu encontro de política monetária em dezembro. Segundo Kashkari, os juros estão neste momento “modestamente restritivos”. Amanhã, sai o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) de outubro. Na quinta-feira, é divulgado o índice de preços ao produtor (PPI).
"Dependendo dos números de inflação, sobretudo na parte de serviços, pode aumentar a aposta de que o Fed não corte os juros em dezembro. Devemos ter bastante volatilidade no mercado nos próximos meses com a definição da equipe de Trump", afirma Chiumento, do BS2.