Ibovespa cai 1,43%, aos 127,8 mil pontos, e recua 0,23% na semana
Passadas duas semanas desde o segundo turno das eleições legislativas, o mercado segue à espera - em prazo ainda indefinido - de que o governo corrija a trajetória das contas públicas para que o arcabouço fiscal venha a ser cumprido. E a falta de novidades ao fim de mais uma semana sem anúncio de cortes de gastos mantidos nos ativos brasileiros na defensiva, tanto na Bolsa como também no câmbio e na curva de juros domésticos. Assim, o Ibovespa subiu em baixa pelo terceiro dia, e em grau superior ao das duas sessões anteriores. Hoje, caiu 1,43%, para 127.829,80 pontos, cedendo a linha dos 127 mil na mínima do dia, para 126.972,83, o que o fez convergir, no intradia como no fechamento, para níveis do começo de agosto.
Em percentual, houve maior perda diária para o Ibovespa desde 20 de setembro (-1,55%). No pior momento da sessão, quando caiu um pouco mais de 2%, estava a caminho de seu maior tombo desde 21 de setembro de 2023, quando havia cedido 2,15% naquele fechamento. Na semana que agora chega ao fim, o Ibovespa recuperou 0,23%, após perdas de 1,36% e de 0,46% em períodos anteriores. No mês, o índice da B3 caiu 1,45%, colocando a perda do ano em 4,74%. O giro desta sexta-feira se manteve reforçado como nas últimas sessões, chegando hoje a R$ 30,0 bilhões.
Na B3, as perdas da Vale ON, a ação de maior peso no Ibovespa, foram a 4,61% no fechamento, tendo chegado a ceder mais de 5% durante a sessão, devolvendo o ganho em torno de 3,5% do dia anterior. O ajuste do índice foi relativamente contido em direção ao encerramento, com a melhoria, do meio para o fim da tarde, observado na Petrobras (ON +1,82%, PN +1,89%), no dia seguinte ao balanço do terceiro trimestre e ao anúncio da distribuição de dividendos ordinários.
Dessa forma, o desempenho do estatal foi o ponto favorável, entre as ações de maior liquidez e peso no Ibovespa, na sessão marcada também por pressão no setor financeiro, com a perda em Itaú PN a 1,57% e em Bradesco a 1, 07% (ON) e 1,10% (PN) sem fechamento. Na ponta perdedora do Ibovespa, destaque nesta sexta-feira para Alpargatas (-7,90%), Lojas Renner (-6,14%) e Usiminas (-6,02%). No lado oposto, Embraer (+7,47%) após o balanço trimestral, à frente da Natura (+2,90%) e da PetroReconcavo (+2,62%) no encerramento do dia.
Ainda mais do que os desdobramentos externos que não são apresentados para emergentes como o Brasil - como a recente eleição do protecionista Donald Trump para mais um mandato na Casa Branca -, a atenção dos investidores segue técnicas em quanto detalha o pacote de cortes de gastos, e quando será anunciado - após a frustração de que algo emergisse tão logo passou o segundo turno das eleições municipais. Frustrado com o prazo de espera, o foco não tem valor dos cortes, e qualquer anúncio abaixo de R$ 30 bilhões tende a decepcionar.
Nesta sexta-feira, o relato do ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deseja ler "a redação de cada medida" do plano de corte de gastos proposto pela equipe econômica indica que o anúncio da decisão não esteja tão próximo. E pela rede social X, aguçando os ruídos, a presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), fez uma série de críticas ao mercado financeiro, argumentando que não é "cortando benefícios do povo" para "pagar a conta" do aumento da taxa de juros que a inflação será combatida. Gleisi pediu que o Banco Central intervenha no mercado de câmbio.
“Está errado essa ciranda, e o presidente Lula tem toda razão em criticar e agir com cautela e responsabilidade diante de toda essa pressão. Foi eleito pelo povo e não pelo mercado”, acrescentou o presidente do PT. Durante a sessão, o dólar à vista foi negociado na máxima do dia a R$ 5,7908 e, no fechamento, mostrou alta de 1,07%, a R$ 5,7359. O dia foi de avanço também para a curva do DI.
Por outro lado, o ministro dos Transportes, Renan Filho, afirmou hoje, em entrevista à CNN Brasil, que o presidente Lula tomará uma decisão sobre as áreas em que realizará cortes levando em consideração o que o ministro da Fazenda diz.
"Mais um dia difícil para a Bolsa brasileira, na contramão das bolsas americanas, que andaram hoje. E a contramão reflete novo adiamento desse pacote fiscal, que está virando uma grande novela mexicana", diz Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research. Em Nova York, os ganhos na sessão desta sexta-feira ficaram em 0,09% (Nasdaq), 0,38% (S&P 500) e 0,59% (Dow Jones), índices que avançaram entre 4,61% (Dow Jones) e 5,74% (Nasdaq) na semana, e sobem até 6,59% (Nasdaq) no mês.
“Cada bate-boca noticiado pela imprensa, cada ida e volta, tem gerado estresse, o que resulta em aumento de cargos na Bolsa”, acrescenta o analista, referindo-se ao relato de que os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Trabalho, Luiz Marinho, mantiveram-se desentendidos em uma das reuniões de discussão sobre as cortes, diante do presidente Lula. Como fator externo, ela menciona certa decepção quanto ao pacote de estímulos na China, o que prensou as ações da Vale nesta última sessão da semana.
“O fraco estímulo chinês gerou uma queda nas commodities metálicas, que pressionou o Ibovespa abaixo”, destaca também Christian Iarussi, sócio da The Hill Capital, mencionando que o pacote de estímulos à maior economia asiática, mercado fundamental para a demanda global por assuntos primas como a mineração de ferro, ficou "aquém das expectativas".
Para Bruna Centeno, assessora da Blue3 Investimentos, os dois fatores definidos da sessão também foram a decepção com a envergadura dos estímulos na China e, por aqui, a expectativa para o anúncio do pacote fiscal que "mais uma vez tomou o dia", contribuindo para a alta do dólar e a abertura da curva de juros nesta sexta-feira. "Ânimos ainda não se riram, e continuam a penalizar os papéis."
Ainda assim, o mercado financeiro se mostra mais otimista quanto ao desempenho das ações no curtíssimo prazo, indica o Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira. Nenhum dos participantes disse esperar queda para o Ibovespa na próxima semana, enquanto para 83,33% o índice terá ganho. Os que preveem estabilidade são 16,67%. Na pesquisa anterior, a expectativa de alta fatia era de 62,50%; a de variação neutra, de 25,00%; e de queda, de 12,50%.