Ibovespa reduz perda e cai 0,24%, a 130,3 mil pontos, após eleição dos EUA
Os sinais de que a vitória de Donald Trump pode ser completa, com o controle da Câmara e do Senado pelos republicanos, tiveram o efeito inicial esperado sobre os ativos brasileiros nesta quarta-feira que precedeu a decisão do Copom, à noite, e do Federal Reserve , amanhã: elevação do dólar a R$ 5,86 na máxima do dia, avanço da curva de juros doméstica e retração do Ibovespa. Tais movimentos, no entanto, foram moderados ou bastante revertidos ainda na virada da manhã para a tarde, colocando o dólar em baixa de 1,26%, a R$ 5,6759, no fechamento da sessão.
Na B3, o índice de referência encerrou hoje em nível baixo de 0,24%, aos 130.340,92 pontos, entre mínimo de 128.822,16 e máxima de 130.669,69 pontos, à tarde, tendo saído de abertura aos 130.613,17 pontos . O giro foi reforçado em R$ 24,5 bilhões.
No exterior, o dia foi de avanço generalizado da moeda americana e de valorização do bitcoin, principal criptomoeda, pela primeira vez negociado a US$ 75 mil. O fortalecimento do dólar tentou, inicialmente, em depreciação de commodities como o petróleo, com efeito para as ações da Petrobras, que chegou a cair mais de 1%, mas garantiram não muito distantes da estabilidade (ON -0,10%, PN + 0,03%), com a mitigação do ajuste de preços no Brent, em Londres, e no WTI, em Nova York.
A mineração de ferro também cedeu nesta quarta-feira pós-eleitoral, com perdas que chegaram a 2% em Cingapura – em Dalian, na China, o ajuste ficou em -0,76% na sessão. Vale ON fechou em baixa de 1,13%, na B3. Destaque para Metalúrgica Gerdau (+9,15%) e Gerdau (PN +9,61%) após divulgação de resultados trimestrais. Na ponta oposta do Ibovespa, vieram Carrefour (-3,63%), CSN (-3,01%) e Engie (-2,92%).
Com a percepção de que o segundo governo Trump será deficitário, inflacionário e protecionista, os rendimentos dos Tesouros subiram rapidamente na sessão, em paralelo a avanço entre 2,53% (S&P 500) e 3,57% (Dow Jones) para os principais índices de ações de Nova York. O Federal Reserve, conforme se espera, ainda deve cortar a taxa de juros americana em 0,25 ponto percentual na reunião desta quinta-feira, mas a avassaladora vitória de Trump pode resultar em um grau maior de cautela pela autoridade econômica, logo à frente , com interrupção do ciclo de corte de juros para observar o que virá em 2025.
"Os republicanos mudaram o Senado, conquistando mais de 50 cadeiras recebidas assim a maioria na casa, e estão saindo bem na disputa pelo controle da Câmara dos Deputados, embora a maioria dos comentaristas considere que essa disputa continua muito acirrada. Espera-se que esse resultado resultou em mais estímulos para a economia dos Estados Unidos, embora a escala dependente dos republicanos obtenham o controle total do Congresso", aponta em nota Oliver Blackbourn, gerente de portfólio de Multi-Asset da Janus Henderson Investors.
As projeções apontam 199 cadeiras para os republicanos e 180 para os democratas, com 56 ainda a serem definidas na Câmara, reportadas nesta tarde pela Associated Press. Para controlar a casa, um partido precisa de 218 assentos, do total de 435.
"A gestão republicana deve trazer maior tensão comercial e geopolítica, o que eleva a aversão ao risco. E a combinação desse ambiente internacional de volatilidade e de juros globais em alta deve implicar menos atratividade nos fluxos para mercados emergentes. Nesse contexto, os fundamentos locais ganham muita relevância", diz o economista-chefe do banco BV, Roberto Padovani. “Quadro global é desafio para emergentes”, enfatiza.
No que diz respeito ao Brasil, a eleição de Trump deve resultar em câmbio pressórico e inflação elevada no País, com a taxa de juros podendo continuar alta por mais tempo, avalia o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, para quem o resultado reforçar a necessidade de ajuste fiscal robusto no Brasil, reporta a jornalista Ana Scabello, do Broadcast. Caso o ajuste seja avaliado como inadequado pelo mercado, ele destaca a chance de o dólar chegar a R$ 6.
"Todos passam a estar concentrados em entender quais serão os próximos passos de Trump e as implicações disso para os mercados como um todo. Domesticamente, ainda não temos muitas definições com relação ao fiscal, uma discussão que prevaleceu no interesse do mercado nas últimas semanas, ainda à espera de decisão do presidente Lula", diz Rodrigo Ashikawa, economista da Principal Claritas.
Nessa conjuntura interna e externa, "há probabilidade de 89% de aumento de 50 pontos-base na taxa Selic hoje à noite. A vitória dos republicanos fortalece o dólar, intensificando a pressão inflacionária e ampliando as expectativas de juros mais altos para conter a inflação .E a ausência até o momento de medidas fiscais por parte do governo brasileiro, e a incerteza sobre a trajetória econômica, levou os investidores a adotar uma postura mais cautelosa", diz Felipe Uchida, chefe do departamento de análises quantitativas e sócio da Equus Capital.
"O cenário atual exige postura mais agressiva por parte do Copom para controlar a inflação, que continua desafiadora e bem acima da meta estipulada. O aumento projetado de 0,50 ponto porcentual na Selic nesta reunião reflete a pressão do câmbio depreciado e dos riscos fiscais , que têm exacerbadas as expectativas de inflação no curto prazo", diz Guilherme Jung, economista da Alta Vista Research.
No horizonte mais amplo, "um mundo com dólar forte, um Federal Reserve que não consegue cortar tanto os juros, e os riscos de menor aquecimento econômico na China e nos EUA, diante de um protecionismo maior, dificultará a capacidade do BC brasileiro de reduzir os juros na segunda metade do ano que vem”, prevê o diretor de consultoria política da Eurásia para as Américas, Christopher Garman, reportagem de Nova York a correspondente Aline Bronzati, do Broadcast.