Taxas de juros sobem no dia e no mês, pressionadas por fiscal e câmbio
Os juros futuros ocorreram na sessão desta quinta-feira, 31, em alta, que também foi o modus operandi que prevaleceu no mês de outubro. A recomposição de prêmios hoje se deu na esteira da esticada do dólar até perto dos R$ 5,80, do ambiente externo mais volátil e da leilão de títulos prefixados com risco maior para o mercado. O mercado operou mais uma vez sem respaldo de liquidez, refletindo a cautela antes dos eventos-chave da semana que vem - eleição nos EUA e reunião do Federal Reserve, no exterior, e, aqui, o pacote fiscal e a decisão do Copom.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 terminou em 12,82% (de 12,76% ontem sem ajuste) e a do DI para janeiro de 2027 encerrou em 12,99%, de 12,90% ontem sem ajuste. O DI para janeiro de 2029 tinha taxa de 13,00%, de 12,91%. O nível de especificação mudou um pouco em relação ao fim de setembro, mas porque a curva teve uma elevação quase em bloco, com taxas longas e curtas avançando em torno de 50 pontos base.
“O mercado está sem profundidade nas últimas semanas, e nesta em especial por causa da eleição nos EUA na semana que vem, das reuniões do Fomc e do Copom, e ainda os rumores de que a agenda de revisão de gastos só sairá no fim da próxima semana", resumiu Daniel Leal, estrategista de renda fixa da BGC Liquidez.
Nesse contexto, acrescenta, “qualquer espirro tem jogado a curva de um lado para outro”. "O dólar perto de R$ 5,80 também levou o DI junto", completa. O dólar encerrou a sessão em R$ 5,7811, chegando na máxima a R$ 5,7940, com valorização de 6,13% em outubro.
Assim, o avanço das taxas resistiu à melhoria na curva americana ao longo do dia. Os rendimentos zeraram a alta vista pela manhã, mas no geral o ambiente externo hoje esteve mais hostil, com dados divergentes nos EUA, cautela com eleições americanas e decepção com balanços de empresas de tecnologia.
No Brasil, a demora na divulgação do pacote fiscal tem dado espaço a elucubrações em torno do que será anunciado, mas o mercado evita colocar suas fichas enquanto não sai nada oficialmente.
A “falta de visibilidade” na política fiscal é um dos motivos relatados pela Terra Investimentos para explicar sua revisão para o terminal Selic de 12,5% para 13%. O cenário da casa contempla agora quatro altas consecutivas de 0,50 ponto no juro básico, entre novembro e março de 2025, e uma elevação derradeira de 0,25 ponto em abril. Outros argumentos para a mudança no chamado são hiato do produto em campo positivo e o descolamento “persistente” das expectativas de inflação.
Pesquisa realizada pelo Projeções Broadcast mostra que, para o Copom da próxima semana, 71 entre 73 casas consultadas esperam uma dose maior de abertura na Selic, de 0,50 ponto percentual, o que levaria a taxa para 11,25%.
A agenda do dia teve pouca influência sobre o desempenho da curva. A taxa de desemprego no País no trimestre até setembro caiu para 6,4%, no piso das estimativas coletadas pelas Projeções Broadcast, que tinha teto de 6,6% e mediana de 6,5%. É a menor para trimestres até setembro da série histórica. Cálculos sazonais ajustados por algumas casas apontam taxas em até 6,2%. No entanto, olhando dados de renda, o mercado começa a ver sinais de perda de impulso.
Profissionais de renda fixa também observam alguma pressão do leilão sobre as taxas. Segundo Leal, o leilão não foi dos maiores, mas trouxe máximas para a curva logo após a divulgação do edital. O Tesouro ofereceu 7 milhões, mas vendeu apenas 5,6 milhões. A oferta de 600 mil NTN-F também não teve demanda integral, com colocação de 400 mil títulos.