Taxas de juros sobem pela 3ª sessão consecutiva por piora de risco fiscal
Os juros futuros fecharam em alta pela terceira sessão consecutiva, em função da deterioração na percepção fiscal. Declarações do presidente Lula indicando aumento de gastos e uma possível ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda para Pessoa Física (IRPF) para além dos R$ 5 mil afetaram um mercado já altamente sensível à questão das contas públicas. Na semana, todas as taxas subiram ante os níveis da sexta-feira passada, com destaque aos vencimentos longos.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 encerrou a 12,61%, de 12,59% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 subiu a 12,77%, de 12,70%. O DI para janeiro de 2029 terminou com taxa de 12,75%, com máxima de 12,88%, de 12,67% ontem.
Mesmo com o mercado precificando um ciclo de aperto que pode colocar a Selic em 13%, a ponta longa subiu ainda mais na semana, refletindo o pessimismo do mercado sobre as medidas fiscais. A discussão sobre o aumento da faixa de isenção do IRPF para R$ 5 mil ganhou hoje novos contornos após Lula defender que, "no futuro, (temos de) isentar mais". Além disso, indicou expansão de gastos com o Minha Casa, Minha Vida e ao afirmar que o governo vai comprar um novo avião para a Presidência e aeronaves para seus ministros viajarem pelo País.
"Os prêmios de risco estão sendo adicionados em cima da percepção de que cada vez mais o governo vai mexer nas regras de novo. Na medida em que se aproximar o período eleitoral, essa chance de mudança de regras vai se elevar", avalia o economista da DA Economics Victor Beyruti, destacando que o desempenho ruim tanto do câmbio quanto dos juros contrastou com o ambiente de tranquilidade no exterior.
Sobre a questão do IR, o economista diz que é mais um exemplo da tendência do governo de "sempre buscar gastar mais e com receitas de contrapartidas incertas, que ainda terão de ser discutidas". Uma das propostas em estudo é a taxação de pessoas com renda acima de R$ 1 milhão para compensar o aumento da isenção.
"Se formos pensar que a janela para aprovação de medidas estruturais é estreita, já que deverá esperar as eleições para presidências da Câmara e Congresso, veremos que o timing de um discurso mais populista pode ser bem prejudicial", afirma a diretora de macroeconomia para o Brasil do UBS Global Wealth Management, Solange Srour, em publicação em sua página no Linkedin. Ela reforça que o mercado está projetando uma Selic terminal perto de 13,5% e que a taxa de câmbio está tendo uma performance bem negativa quando comparada aos pares. "A continuidade desse enredo por semanas ou meses nos levará a mais inflação e menos crescimento em breve."
Com o foco do mercado sobre a cena fiscal, a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) ficou em segundo plano. A queda de 0,4% em agosto ante julho contrariou a mediana das expectativas, de alta de 0,01%, muito em função da revisão da série feita pelo IBGE, que incorporou dados atualizados de uma empresa do setor de publicidade, cujas receitas nos últimos 12 meses estavam subestimadas.