Senado vota hoje indicação de Galípolo para presidir o BC
O economista Gabriel Galípolo deve ter o seu nome aprovado nesta terça, 8, com folga, pelo Senado para assumir a presidência do Banco Central no início do ano que vem. Ainda assim, a expectativa para a sabatina é de que senadores da oposição o questionem sobre a independência que ele terá em relação ao governo federal para conduzir o órgão, e há risco de que integrantes da própria base aliada reclamem do novo ciclo de alta dos juros pelo Comitê de Política Monetária (Copom).
Galípolo ocupa desde julho do ano passado o posto de diretor de Política Monetária do BC, e isso deve ajudá-lo a angariar votos entre os senadores, já que passou por sabatina semelhante para assumir o cargo. Além disso, já está ambientado no BC, o que o ajuda a demonstrar experiência para subir o último degrau na hierarquia da autarquia.
Também conta a favor do economista o fato de ele ser considerado um técnico com capacidade de diálogo com a oposição e de ter cumprido o processo de "beija-mão" com visitas a pelo menos 65 senadores no mês passado, abrindo caminho para uma votação mais tranquila.
Galípolo vai entrar no lugar de Roberto Campos Neto, indicado ainda no governo Bolsonaro, e que tem sido alvo frequente de ataques do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - um crítico da atual política monetária. Ontem, Galípolo e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, participaram de um encontro com Lula, que ocorreu fora da agenda do presidente.
A sabatina será feita em momento de alta da Selic. Na sua última reunião, o Copom subiu a taxa básica de juros de 10,5% para 10,75% ao ano, em votação unânime. Tanto Galípolo quanto os três outros diretores já indicados por Lula para o colegiado votaram pelo aperto, assim como Campos Neto e outros quatro diretores herdados do governo anterior.
Para o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, mesmo depois da aprovação de Galípolo ainda permanecerá a dúvida sobre suas próximas decisões e sua independência em relação ao Planalto. Ele lembra que o economista viajou ao México no avião presidencial na última semana, ao lado do presidente Lula.
"Essa questão da independência não é muito clara ainda. Ele estava no México quando teve o problema do avião e frequenta muito o Palácio (do Planalto). Vai ficar a dúvida sobre como vai ser o Banco Central nos próximos anos. O fato de ele ter votado pela subida dos juros na última reunião deve tranquilizar parte da oposição. Mas vemos a inflação acima da meta, não só pela política fiscal, também por essa dúvida subjetiva quanto à independência", afirmou.
Duas votações
A expectativa é de que duas votações ocorram hoje. Primeiro, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, onde ocorrerá a sabatina. Se o seu nome for aprovado, a indicação será levada para o plenário da Casa, onde haverá a análise em definitivo. Em ambos os casos, a votação será secreta, e o economista precisará da maioria simples dos votos.
Para o senador Angelo Coronel (PSD-BA), vice-presidente da CAE, a expectativa é de votação tranquila, sem surpresas em relação ao resultado. "Acho que será algo muito normal, ele (Galípolo) já visitou todo mundo, acho que não haverá oposição ao seu nome. Acredito que será tudo muito protocolar para cumprir as normas do Parlamento", afirmou.
Plínio Valério (PSDB-AM), líder do partido na Casa e relator da proposta de independência financeira do BC, disse que Galípolo deve ser aprovado com facilidade. Durante a conversa no último mês, o economista demonstrou apoio à proposta de autonomia financeira da autarquia - que é criticada por Lula.
"Sou oposição, mas ele é indicado do presidente Lula, que tem essa prerrogativa. Ele já visitou vários gabinetes, já conversei com ele e, para minha surpresa, ele disse que era a favor da autonomia do Banco Central, que estou relatando, de autonomia financeira. Ele passa sem nenhum problema, não vejo nenhum empecilho", afirmou o senador.
Governo trata tema como 'prioridade'
Uma vez aprovado pelos senadores, Gabriel Galípolo deve tomar posse em 1.º de janeiro de 2025 para um mandato de quatro anos. Além dos últimos dois anos do atual governo Lula, ele permanecerá por mais dois anos à frente do Banco Central, independentemente do vencedor da próxima eleição à Presidência, em 2026. Esse mandato alternado foi idealizado pelo projeto de lei de autonomia do banco, em 2021, para diminuir o risco de decisões políticas no órgão.
Sua agenda no dia vai começar, a partir das 10h, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, onde irá passar por uma sabatina com 27 senadores, incluindo o presidente do colegiado, Vanderlan Cardoso (PSD-GO). Caso haja quórum máximo, ele precisará ser aprovado por pelo menos 14 senadores.
Em 2019, durante a sabatina do atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, senadores o questionaram por mais de cinco horas. Campos Neto teve o seu nome aprovado por unanimidade, com 26 votos, considerando a ausência do então senador Fernando Collor de Mello, que não votou.
Encerrada a sessão na CAE, uma nova votação acontecerá, desta vez no plenário do Senado, onde ele precisará de maioria simples entre os 81 senadores.
Após reunião com lideranças do Congresso, o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, afirmou ontem que a sabatina é prioridade do governo nesta semana. "Prioridade da reunião foi discutir a retomada do Congresso, esta semana. Tratamos como prioridade a sabatina do indicado ao Banco Central. Acompanhamento disso, o senador Jaques Wagner (PT-BA) passou um quadro da avaliação dele, do diálogo que está sendo feito. O retorno com as bancadas, das conversas individuais que ele teve, em especial os senadores da CAE. Houve uma avaliação muito positiva da recepção do Senado", afirmou Padilha.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.