'É uma falta de respeito propor nova eleição na Venezuela', diz María Corina
A líder da oposição da Venezuela, María Corina Machado, rejeitou nesta quinta-feira, 15, a ideia de novas eleições no país que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a repetir hoje.
"Eu pergunto a vocês. Se não agradar o resultado de uma segunda eleição, vamos por uma terceira? Uma quarta? Uma quinta? Vocês aceitariam isso em seu país?", disse durante coletiva de imprensa. "Propor isso é desconhecer o que aconteceu em 28 de julho, é um desrespeitos aos venezuelanos", completou.
"Vocês aceitariam que seus governos chamassem novas eleições se este não concordasse com os resultados?", insistiu.
María Corina relembrou que depois do domingo de eleições, a ditadura de Maduro apertou a perseguição aos opositores, com mais de 1300 pessoas presas, além de relatos de gente desaparecida, ferida e mais de 20 mortos.
Ela também rejeitou a ideia de um governo de coalizão entre a oposição e o chavismo. A líder ressaltou que a oposição defende uma transição democrática com garantias e salvaguardas para as partes envolvidas. "Há uma saída política cumprindo as regras", afirmou. "Não é um esquema de compartilhar o poder".
Nesta quinta, o presidente Lula declarou que ainda não reconhece Nicolás Maduro como presidente reeleito na Venezuela e mencionou publicamente pela primeira vez a ideia de novas eleições no país vizinho. "Se ele Maduro tiver bom senso, poderia tentar fazer uma conclamação ao povo da Venezuela, quem sabe até convocar novas eleições", declarou
O presidente, porém, observou que não é "fácil, nem bom" o presidente de um país dar palpite na política de outra nação. O petista deu as declarações em entrevista à Rádio T, em Curitiba.
"Maduro pode estabelecer um critério de participação de todos os candidatos, criar um comitê eleitoral suprapartidário que participe todo mundo, e deixar que entrem olheiros do mundo inteiro para ver as eleições", declarou o presidente brasileiro.
María Corina, por outro lado, afirmou que a melhor opção de Maduro "é aceitar os termos de uma transição democrática."
A ideia de aventar a possibilidade de uma nova eleição na Venezuela tem sido plantada por aliados do regime chavista, mas é vista com ceticismo pela maioria da comunidade internacional, que vê na estratégia uma armadilha que poderia ser apoiada por Brasil, Colômbia e México para dar a Maduro um respiro político.
O chavismo declarou Maduro vitorioso nas eleições de 28 de julho sem nunca ter apresentado as atas de votação que comprovariam os resultados. A posição, por outro lado, publicou na internet mais de 25 mil atas, cerca de 83% do total, que respaldaria a vitória de Edmundo González Urrutia por mais de 60%.
Questionada sobre a reunião entre os chanceleres do Brasil e da Colômbia hoje, a líder opositora disse que prefere não especular os resultados, mas ressaltou o papel de ambos os países - cujos presidentes são próximos de Maduro - ao possuírem um canal de comunicação com o chavismo.
Ela também comentou o afastamento recente do México da coalizão com Brasil e Colômbia para mediar a crise venezuelana. "Respeito a posição de cada país, não tive comunicação com o governo mexicano, embora tenhamos tentado. Mantivemos contato constante com Brasil e Colômbia, assim como outros países da América Latina".