MERCADO FINANCEIRO

Juro alto não é por culpa do Banco Central, diz economista-chefe do Banco Master

Publicado em 23/07/2024 às 09:57
Juro alto não é por culpa do Banco Central, diz economista-chefe do Banco Master Reprodução

Voz dissonante num auditório cheio de representantes da indústria veementemente críticos da elevada taxa de juros, o economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, fez uma defesa da política monetária do Banco Central (BC). O economista, que participa do Fórum Estadão Think - A Indústria no Brasil Hoje e Amanhã, disse que sempre colocam a culpa pela taxa de juro alta no banqueiro central, mas que é preciso olhar para trás e ver que nos últimos 30 anos a taxa de juro sempre foi alta mesmo com a instituição tendo sido comandada por presidentes de direita, de esquerda, mais ou menos hawks (falcões, com viés mais conservador).

"A gente sempre põe a culpa no banqueiro central nos momentos em que a taxa de juro está mais alta. Mas passados os últimos 30 anos com banqueiros centrais mais à esquerda, mais à direita, mais dovish (menos conservador), mais hawkish e tudo que vocês queiram imaginar, nós completamos 30 anos de juros altos. Então eu diria que a culpa do banqueiro central meio que cai por terra", disse Gala após o presidente da Fiesp, Josué Gomes, ter feito duras críticas à taxa de juro.

De acordo com ele, já se fez várias tentativas o que mostra que há algo de estrutural, mais complexo e de múltiplas causas que mostram que a taxa de juro alta no Brasil não é por culpa do banqueiro central.

"O Banco Central, na maioria das vezes está se defendendo ali no meio da bagunça tentando, ao menos combater a inflação. Eu não posso agora criticar o banqueiro central. É engenheiro de obra feita. Ah, o juro saiu de 2% no meio da pandemia e foi para 14%. A inflação está controlada no Brasil. Poderíamos fazer esta discussão também no Plano Real, como vocês queiram", defendeu Gala.

Ele acrescentou ainda que o Brasil é o terceiro maior centro em negociação de derivativos do mundo sendo que São Paulo é onde se movimenta o maior volume de derivativos de câmbio depois de Londres e Nova York, que é algo totalmente desproporcional ao tamanho do PIB brasileiro.

"A conta capital brasileira é algo de nitroglicerina. Para o câmbio pular para R$ 6, R$ 7 não custa nada. O Banco Central está ali o tempo todo carregando este barril de pólvora. Isto posto, são vários fatores e o BC elencou todos eles. Eu acho que o BC está correto. Teve a postergação do dos cortes de juros nos EUA e houve uma saída de dólares para lá, as expectativas de inflação no Brasil estão longe e se distanciando da meta", disse Gala.

Ele pondera que a inflação no Brasil não está fora de controle, mas a inflação corrente acumulada em 12 meses está acima da meta, a inflação esperada para este e o próximo ano é acima da meta, o mercado de trabalho está chegando em uma situação mais delicada.

"Não podemos dar de barato que a inflação está controlada. O BC está correto e estou de acordo o que foi elencado", disse o economista do Banco Master.