Kamala reúne apoios para consolidar sua candidatura
A vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, reuniu nesta segunda-feira, 22, apoios importantes para viabilizar sua candidatura presidencial, após a desistência do presidente Joe Biden, no domingo, 21. Kamala obteve o aval da ex-presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, dos 23 governadores democratas, de 87% dos senadores e 83% dos deputados.
A troca na chapa democrata provocou um efeito prático positivo nas primeiras 24 horas: a campanha arrecadou um recorde de US$ 81 milhões. Para a vice-presidente, no entanto, a notícia mais importante é que nenhum nome de peso do partido se colocou publicamente para desafiá-la na convenção.
Das principais lideranças democratas, ela ainda não conta com o respaldo oficial do ex-presidente Barack Obama e das duas figuras mais importantes do Congresso: os líderes dos democratas no Senado, Chuck Schumer, e na Câmara dos Deputados, Hakeem Jeffries. Eles adotaram uma posição de neutralidade para não passarem a impressão de que estão ditando os rumos da candidatura, que terá de ser oficializada na convenção, em agosto.
"É com imenso orgulho e otimismo que eu apoio a vice-presidente Kamala Harris para presidente dos EUA", disse Pelosi. "Meu apoio é oficial, pessoal e político", destacou ela, que defendeu a união do partido contra Trump.
Equipe
Kamala também recebeu o apoio de sindicatos, como o AFL-CIO, que representa 12,5 milhões de trabalhadores, e de celebridades, como a atriz Barbra Streisand, os atores Robert De Niro, Mark Hamill e George Clooney, o comediante Jon Stewart e o cineasta Spike Lee.
Com a máquina do partido na mão, Kamala esteve ontem em Delaware para a primeira reunião com a equipe de campanha de Biden, que foi mantida integralmente nos cargos. Ao final do encontro, ela usou sua experiência como promotora do Estado da Califórnia para atacar o ex-presidente americano.
"Trump quer levar o país para trás, para uma época em que muitos americanos não gozavam de plenos direitos e liberdades", afirmou Kamala. "Mas nós acreditamos em um futuro mais brilhante, que abra espaço para todos." Ela também não se esqueceu de falar da questão que muitos democratas consideram ser o ponto forte da campanha: o direito de aborto.
"O governo não deveria dizer a uma mulher o que ela deve fazer com o seu corpo", disse, em uma tentativa de recuperar o voto feminino e a base do partido. No fim, ela finalizou o discurso com a frase: "Deus abençoe todos vocês, os EUA e Joe Biden."
Ataques
O primeiro grande desafio da campanha agora será escolher um vice. Os governadores que poderiam desafiá-la na convenção hipotecaram apoio a Kamala e se tornaram candidatos: Josh Shapiro, da Pensilvânia, Andy Beshear, de Kentucky, e Gretchen Whitmer, de Michigan. Também estariam no páreo o secretário de Transportes, Pete Buttigieg, e o senador Mark Kelly.
Com a saída de Biden, os republicanos passaram a concentrar fogo em Kamala. Trump acusou ontem os democratas de enganar o povo americano. "Biden não estava apto a servir desde o início, mas as pessoas que o cercavam mentiram para os EUA sobre sua completa e total decadência mental, física e cognitiva", disse.
A campanha republicana divulgou um anúncio associando Kamala a Biden em questões como inflação e fronteira. O candidato a vice, J.D. Vance, em sua primeira aparição individual após sua indicação, atacou a provável candidata democrata em um discurso em sua cidade natal, em Ohio.
Republicanos ameaçam barrar troca na Justiça
Ao anunciar sua desistência da corrida à Casa Branca, o presidente dos EUA, Joe Biden, pediu para que seus apoiadores fizessem doações à campanha de Kamala Harris. Mas, enquanto Biden tenta entregar os milhões em dinheiro que sobraram nos cofres de sua candidatura, os advogados do Partido Republicano prometem contestar a troca na Justiça.
Durante semanas, os democratas argumentaram que Kamala era a solução mais fácil para o partido. Em vez de encorajar uma nova disputa e desencadear uma corrida por apoio financeiro, o nome dela evitaria problemas legais, porque já consta na papelada apresentada à Comissão Eleitoral Federal (FEC), que organizou o comitê de campanha de Biden.
No entanto, advogados especializados em finanças de campanha ligados aos republicanos argumentam que a campanha não tem autoridade legal para fazer isso - e a manobra pode ser contestada.
Charlie Spies, advogado do Partido Republicano, disse que tanto Biden quanto Kamala teriam de ser oficialmente indicados pelo Partido Democrata em sua convenção, em agosto, antes que qualquer transferência possa ocorrer. "Biden não pode transferir seu dinheiro para Kamala, porque ele foi arrecadado em seu nome", disse.
Dúvidas
"Substituir um candidato presidencial e entregar seu comitê a outra pessoa é algo sem precedentes sob a atual lei de financiamento de campanha", disse Sean Cooksey, um republicano que preside a FEC. "Isso levanta questões sobre se é legal, quais limites se aplicam e quais os direitos dos contribuintes."
Dara Lindenbaum, comissária da FEC nomeada por Biden, tem uma visão oposta: "O comitê de campanha é do presidente Biden e da vice-presidente Kamala Harris", afirmou. "Os fundos ficam com ela enquanto ela permanecer na chapa."
Mas não é só no campo financeiro que Donald Trump pretende atuar. Montada para ser uma campanha contra Biden, os republicanos buscam agora recalibrar a narrativa. O presidente da Câmara dos Deputados, Mike Johnson, afirmou que a troca da chapa democrata pode render vários desafios legais.
Em entrevista à ABC News, ele sugeriu que poderia haver decisões na Justiça para manter Biden na chapa. "Cada Estado tem seu próprio sistema", disse Johnson. "E, em muitos lugares, não é possível simplesmente trocar de candidato." (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.