Dólar cai 0,35% e termina a R$ 5,0405 de olho em fala de Powell
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O dólar à vista perdeu fôlego ao longo da tarde em meio a declarações do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, e encerrou a sessão desta quarta-feira, 3, em baixa de 0,35%, cotado a R$ 5,0405, com mínima a R$ 5,0368. Pela manhã, a divisa operou descolada do sinal predominante de baixa da moeda americana no exterior e se aproximou R$ 5,10 na máxima (R$ 5,0918), com relatos de saídas de recursos do mercado doméstico.
Powell desfez parte do mau humor que reinou pela manhã com a divulgação dados fortes do mercado de trabalho americano. Relatório ADP mostrou criação de 184 mil vagas no setor privado americano em março, bem acima do esperado (150 mil) - o que levou as taxas dos Treasuries aos maiores níveis desde novembro de 2023, com a T-note de 10 anos tocando 4,42% na máxima.
As taxas longas dos Treasuries desaceleraram com a fala de Powell e o retorno da T-note de 2 anos - mais ligada às expectativas para o rumo da taxa de juros no curto prazo - passou a cair. Já em baixa pela manhã, o índice DXY - que mede o desempenho do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes - acelerou a queda e tocou mínima aos 104,231 pontos.
O real - que ontem amargou o pior desempenho entre pares - hoje se recuperou, apresentando o segundo maior ganho em relação ao dólar entre as divisas latino-americanas. A liderança ficou com o peso chileno, que exibiu alta superior a 2%, graças à escalada da cotação do cobre para o maior nível em um ano e à decisão do BC chileno ontem de reduzir o ritmo de cortes de juros.
"A fala de Powell não trouxe nada de muito novo, mas o mercado estava estressado com a pesquisa ADP. O mercado de trabalho americano continua aquecido e a expectativa é que o payroll venha forte na sexta-feira, voltando a pressionar o dólar", afirma o economista André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online, para quem a taxa de câmbio deve permanecer acima do nível de R$ 5,00. "Não vejo uma desvalorização grande do real, mas o quadro é de cautela com o exterior. A alta do petróleo pode pressionar a inflação americana em abril."
Em discurso na Universidade de Stanford, o presidente do Fed reiterou que a taxa de juros já atingiu seu pico e que a maioria dos integrantes do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) espera que os juros comecem a cair em algum momento neste ano. Mais uma vez, Powell afirmou que o Fed está no modo "data dependente" e que necessita de "mais confiança" no processo de desinflação para começar a cortar a taxa básica.
Por aqui, as atenções se voltam à dinâmica no mercado futuro, diante da expectativa de que o Banco Central possa voltar a intervir. Investidores absorveram ontem a oferta total de US$ 1 bilhão em swaps cambiais, que equivale à venda de dólar futuro. O objetivo da operação, segundo o BC, era manter o "funcionamento regular do mercado de câmbio" em meio a resgates de NTN-A3 em 15 de abril.
Quando esses títulos vencem, os detentores podem ir ao mercado para recompor sua posição, o que aumenta a demanda por compra no segmento futuro.
Em evento na cidade de São Paulo, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse hoje que a oferta adiciona de swaps não foi provocada pelo movimento da taxa de câmbio. "Estávamos vendo que poderia ter uma disfunção e foi feita uma intervenção, colocamos no texto da intervenção isso", disse Campos Neto, acrescentando que o BC voltará a atuar se houver "disfuncionalidade" no mercado.
Para o consultor da Remessa Online, ao promover a oferta extra de swaps, o BC passou ao mercado o "recado" de que está atento à dinâmica do câmbio e não vai deixar o real se descolar de seus pares. "Há a explicação mais técnica do vencimento da NTN-A3, mas o fato é que o dólar saiu do corredor entre R$ 4,80 e R$ 5,00 e se estabeleceu firmemente acima de R$ 5,00", afirma.