FUTEBOL BRASILEIRO

Diretor do Flamengo compara pressão no clube com o Palmeiras: 'Não tem a nossa grandeza'

José Boto destaca diferenças na transição de jovens atletas e pressões distintas entre Flamengo e Palmeiras.

Publicado em 23/12/2025 às 11:01
Flamengo Reprodução / Instagram

Apesar de uma temporada extremamente vitoriosa, marcada pelas conquistas do Campeonato Brasileiro e da Copa Libertadores da América, o Flamengo enfrenta um ponto de reflexão: a pouca utilização de atletas das categorias de base no elenco profissional, tema que voltou a gerar polêmica em comparação com o Palmeiras.

Em entrevista ao podcast No Princípio Era a Bola, do jornal Tribuna Expresso, de Portugal, o diretor de futebol do Flamengo, José Boto, abordou a situação e comparou a pressão vivida pelos clubes.

"(Sobre a paciência com jogadores de base) Nisso o Palmeiras está mais à frente. Não por ter melhores jogadores na formação, mas pela transição que faz para o nível profissional. Nós vamos tentar caminhar nesse sentido. Uma das ações foi aproximar o Alfredo (Almeida, diretor das categorias de base) para ter ligação direta conosco. Sabemos que são contextos completamente diferentes. O Palmeiras, apesar da grandeza, não tem a grandeza do Flamengo. Vou dar um exemplo: tivemos que fazer dois jogos com um sub-17 (João Victor) na defesa central, que não esteve mal, mas cometeu um deslize e foi duramente criticado. Ele tem potencial para ser um zagueiro de nível europeu em cinco ou seis anos, mas a confiança foi abalada, e será difícil para ele voltar a jogar nessa posição com o nível de confiança necessário para um jovem dessa idade", afirmou Boto.

O dirigente também avaliou o impacto dessa pressão no desenvolvimento dos atletas. "Temos que considerar isso e, talvez, perceber que o mais correto não é buscar outro zagueiro central porque aquele tem um potencial enorme. Mas, talvez, naquele contexto, o mais prudente seja contratar outro defensor e negociar o jovem, mantendo uma porcentagem para o clube. A pressão no Palmeiras é diferente da do Flamengo. Não se trata apenas de o jogador não estar pronto para jogar. Falo de ataques nas redes sociais ao jovem e à sua família, acusações de que teria errado de propósito. Coisas completamente absurdas, que não estamos acostumados a ver na Europa", criticou.

José Boto também projetou uma temporada de 2026 ainda mais desafiadora para o Flamengo, ressaltando as cobranças intensas sobre o clube, mesmo após um ano de conquistas.

"Acho que a temporada será mais difícil porque não é fácil repetir o que fizemos. Conhecendo a imprensa e a torcida, sei que vão exigir o mesmo ou até mais, mesmo que não haja mais títulos a conquistar. O presidente tem essa noção, e nosso objetivo é sempre entrar para ganhar, mas nem todos os anos é possível repetir o desempenho. As duas competições fundamentais para nós são o Brasileirão e a Libertadores. Sabemos que a Libertadores, por ser eliminatória, é mais imprevisível. Por isso, nosso foco é sempre sermos campeões do Brasileirão", declarou.

Boto ainda afirmou que o elenco do Flamengo pode passar por ajustes, mas descartou mudanças radicais sob o comando de Filipe Luís.

"Minha principal preocupação é garantir que os jogadores tenham férias suficientes para descansar a mente. Planejamos tudo para que o elenco seja ainda melhor. Nunca existe um plantel perfeito; sempre há ajustes a fazer, mesmo quando tudo parece ótimo. Mas não será fácil repetir uma temporada como esta. É importante avaliar, ao longo do percurso, o rendimento de cada jogador e ajustar com calma, sem grandes revoluções. O aspecto emocional pesa muito no Brasil, mais do que na Europa", pontuou.

Por fim, o diretor destacou o interesse crescente do Flamengo no mercado europeu para reforçar o time. "O mercado sul-americano hoje é pequeno para a realidade e cultura do Flamengo. Não quer dizer que não existam jogadores com potencial no Brasil, Argentina ou Equador, mas o Flamengo precisa de atletas prontos para jogar, devido à pressão. Se não lida bem com pressão, com o Maracanã cheio e a imprensa cobrando diariamente, é difícil. Jogadores com mais experiência suportam melhor isso. Além disso, buscamos trazer uma cultura mais europeia para o clube", finalizou.