Em Aracaju o transporte coletivo é estressante, perigoso, sujo e vulgar. Não é nada agradável esperar horas por um ônibus que, quando resolve aparecer, não cabe nem uma palha. Vez em quando, porém, dependendo do lugar em que está e de para onde vai, pode ter a sorte de ter pegar um ônibus vazio ou quase vazio.
Esses dias, junto com a Nailys, peguei o 310, Shopping RioMar – Rodoviária Nova. E estávamos lá, falando mal da vida alheia, eu enxugando a língua nela – por ela criticar blusas que mostram o umbigo, sentindo o fedor das áreas nobres aracajuanas, quando um homem, com farda de instituição de ensino, sobe e senta-se à nossa frente.
Conversa vai, conversa vem e meus olhos recaem sobre o tal homem – um sujeitinho muito estranho e com um comportamento questionável. Esqueço a criatura e mais algumas esquinas depois, vejo, sem querer, que o homem estava vendo vídeo pornográfico na tela grande do smartphone. Como ele estava na minha frente, com a tela virada só para si e que, ele não percebeu, me deixava como expectador involuntário, não podia deixar de ver.
O filme, enviado junto com muitos outros pelo WhatsApp, era ruinzinho – não valeu nem a bateria desperdiçada – mas para viciado em pornografia tudo vale.
De repente o homem dá sinal, desce e some na escuridão da noite e no anonimato das ruas, feliz por ter visto um pornozinho no coletivo – e certamente louco para ficar longe de todo mundo para ver com mais tranquilidade os arquivos vindos pelo WhatsApp.
Nailys e eu seguimos para a zona oeste, com a nossa vida tranquila, sabendo que entre mulheres que usam blusas curtas sobre buchos quebrados e homens que não controlam seus mais primitivos instintos ainda estamos no lucro – mesmo que esse lucro não seja expresso em valores de reais, ou euros ou dólares, mas tão somente em bom gosto, seja sobre filmes pornôs ou blusas.
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