A modinha religiosa dos últimos tempos sofreu um revés que se parece muito com a contra-reforma católica – os padres saíram com fervor para arrebanhar as ovelhas (não carneiros, só ovelhas), tomando o espaço dos cantores gospéis e ridicularizando a vanguarda católica do show business.
Quem assiste a programação da TV aberta não consegue mais, e isso já tem um tempo, ficar cinco minutos sem ouvir a gritaria lamuriosa de um padre ou outro. E tal qual a classe protestante, apareceram padres cantores da mpb, do sertanejo e, se deixarmos, logo logo o Funk católico aparece por aí também para completar a quebra e mais um selo apocalíptico. E não entenda que há preconceito em um padre vestir uma calça tão apertada que dá para notar cada ruga peniana ou que um padre não possa pregar no além-igreja. Muito pelo contrário.
Na vanguarda do movimento católico tínhamos músicas que frequentavam os corais das igrejas e que despertavam bons sentimentos em crianças, adolescentes e adultos sem perder o foco na mensagem. E os padres cantores, como Marcelo Rossi e Antonio Maria, vestiam-se como padres evangelizadores, cantavam e coreografavam sem apelar pelos desejos sexuais e depravados das mulheres, como ocorre com uma frequência surpreendente hoje. A vanguarda ficou para trás por não ceder às artimanhas da mídia. Os padres pops à MC Catra saíram vitoriosos.
E é difícil saber o que esses padres querem: comer as ovelhas, apenas tosá-las ou apenas exercer a vaidade e a luxúria abençoadas, uma vez que se são incentivadas por padres é automaticamente entendida como santa.
Os protestantes, pastores com voz potente, cantores que lotavam estádios e músicas que oscilavam entre a extrema melancolia e a alegria estonteante ficaram para trás. As composições de Marcelo Rossi e Antonio Maria não vendem mais e a ética religiosa, se isso existir de verdade, oi jogada na lama dos holofotes e deixada para as aulas de história do futuro.
E se considerarmos que parodiar músicas mundanas para o arrebatamento de ovelhas então estamos muito bem servidos, na programação da TV, nas casas dos alienados e das ovelhas histéricas. E como contra a Igreja ninguém pode falar nada, independente de qual (mas muito pior no que se refere aquela italiana), seguimos sendo bombardeados com os Catras santificados.
Deus nos ajude, se Deus existir mesmo, quando o apocalipse chegar e estivermos diante do Trono por que teremos muito o que explicar sobre a leve depravação da vida que fomentamos e defendemos com unhas, dentes, crucifixos, CD’s e idolatria.