Os animais domésticos, ou não, sempre estiveram na berlinda em Palmeira dos Índios. Os hábitos comuns entre parte dos moradores de envenenar e abandonar animais são práticas quase incorporadas ao ambiente urbano do município. Os hábitos evoluíram e agora os envenenadores e abandonadores chegaram ao cúmulo do inconcebível.
Nessa última semana fui levado, contra vontade, para o desprezível e nojento mercado público da carne e nem mesmo entrei no edifício e já pude vislumbrar, além da falta de higiene, do esgoto a céu aberto – principalmente aos sábados e quartas-feiras – e dos ratos por toda parte, uma cena muito mais desprezível que todo o conjunto que sustenta a mesa dos palmeiríndios: três filhotes de cachorro, ainda com o cordão umbilical, jogados em um buraco de lixo e cobertos com papelão, sob o sol inclemente das onze horas.
A cena e o ato já é, em si, o mais degradante que um dito ser humano pode conceber. Porém, é sempre possível piorar: descobri que os filhotes, que não resistiram, eram de uma cadela de rua! Ou seja, a atitude mais nobre seria ajudar a cadela e conseguir lares para os filhotes – e isso, por ser nobre ou o correto, não é típico dessa cidade.
No mesmo espaço temporal outros filhotes de gatos, também com o cordão umbilical, foram abandonados na porta comercial de uma conhecida loja de produtos veterinários.
Outros quatros filhotes, pouco maiores, foram jogados ao deus-dará, próximo à pedreira – patas inchadas do chão quente é só uma das características lamentáveis que os pobres animais adquiriram.
Em outra ocasião, os cães de rua foram envenenados em massa e a prefeitura teve que disponibilizar uma equipe para recolher tantos corpos espalhados pelas ruas.
Na minha rua, no São Cristóvão, os gatos são envenenados aos montes em períodos regulares.
Essa é uma cidade deplorável, vista sob esse ponto de vista. Para uma localidade onde Igrejas e Funerárias fazem sucesso é quase impossível ver um gesto de caridade e piedade para com os animais. É possível dizer que se conta quantos cristãos existem – a maioria são meros hipócritas que levam o nome de Cristo para uma vida vulgar.
O leite da cadela e da gata que tiveram seus filhotes arrancados antes mesmo que pudessem amamentar estão servido, certamente, para ordenha, cujo leite será servido a homens, mulheres e crianças no café da manhã e no jantar – é a única explicação socialmente aceitável para tamanha crueldade.
Enquanto não formos capazes de ter uma cidade minimamente habitável por bichinhos domesticados jamais teremos uma cidade com qualidade de vida para todos.