Hoje de manhã, na Globo, o Padre Marcelo Rossi e outro, que não sei o nome, estavam realizando o missa de todos os domingos. Diziam, em homenagem ao Dia das Mães. Não tinha nada de diferente das missas dos domingos anteriores e, certamente, será igual aos que virão – o que no meu caso não é de estranhar porque minha sensibilidade não é muito apurada no tocante ao ritual das missas.
Ao longo do dia, as redes sociais foram transformadas em álbum de fotografias e mensagens, algumas um tanto falsas, preciso lembrar.
O que ninguém lembrou, vivendo a mesquinhez da própria vida (que se fôssemos levar os princípios cristãos a sério estaríamos em grave delito), foi das outras mães.
No México, na atual ditadura do Presidente Enrique Peña Nieto, mais de vinte e oito mil estão desaparecidos no que se pode chamar de “ditadura democrática de Nieto”. As mães desses desaparecidos jamais são mencionadas. Ainda no México, Peña Nieto é responsável pelo desaparecimento, e morte, de 43 secundaristas que lutavam pela melhoria na qualidade do ensino mexicano.
Essa mães, sofrendo o peso da história latinoamericana, jamais são lembradas.
No Equador, o pequeno país na costa do Pacífico, depois dos recentes terremotos, não há mães e nem filhos simplesmente porque não há dias, comemorações e, em muitos casos, corpos a serem velados.
Essas mães jamais são lembradas.
Em 1982, no discurso na cerimônia de premiação do Nobel de Literatura, Gabriel García Márquez disse:
“Numerosas mulheres presas grávidas deram à luz em cárceres argentinos, mas ainda se ignora o paradeiro e a identidade de seus filhos, que foram dados em adoção clandestina ou internados em orfanatos pelas autoridades militares.” (Márquez, Gabriel García. A Solidão da América Latina. Estocolmo; 1982)
E ainda hoje se ignora essa realidade, que o Brasil também compartilha.
Essas mães, que venceram a ditadura, jamais são lembradas.
Por todo o continente americano, a solidão da qual Márquez falou continua latente e fazendo vítimas, cujas mães não apenas são ignoradas como sepultadas sob pilhas de palavras vazias.
É dia das mães, um seletivo dia, para quais mães?