Desde o populismo varguista o Brasil aceitou, como muita resiliência, a crise moral que se instalou nas instituições republicanas. No período ditatorial a crise foi suprimida pela necessidade de liberdade, a mais buscada era a de expressão, e pela natural justificativa do sistema de governo instalado nos grandes centros urbanos. O problema das saídas tangentes para a repressão da ditadura foi a exclusão dos pobres das estatísticas de saúde, educação e desenvolvimento humano. Durante muito tempo os pobres e miseráveis eram apenas a escória de uma sociedade que não sustentava os próprios medos e limitações.
Quando o país deixou a Ditadura para trás e iniciou seu processo de redemocratização a mídia que sobreviveu ao regime autoritário seguiu seu rumo, não sem continuar a manipulação das massas, e assim a primeira eleição presidencial, na aurora da década de 1990, foi eivada dos vírus manipulativos desenvolvidos na Ditadura. Enquanto o país tentava sair da grave crise econômica e a massa tentava deixar para trás o horrores dos generais, os pobres e miseráveis continuavam sua sina e fazia jus, em todo o território nacional, à alcunha de escravos modernos.
O Brasil, após anos de combate à crise financeira, conseguiu deixar lidar com a desvalorização da moeda e com o analfabetismo, a fome e o baixo índice de desenvolvimento humano, principalmente nos estados do nordeste e do norte.
A partir de 2002, no Governo Lula, as lutas contra a fome, o analfabetismo e e a dívida pública internacional foram intensificadas e dez anos depois o norte e o nordeste, em particular, sentiram os efeitos: o pobre passou a ter energia elétrica e água encanada, ainda que sem o devido saneamento básico, em casa; a porcentagem de crianças mortas devido à desassitência social e à desnutrição caiu e a educação chegou para todos – Instituições de ensino técnico, tecnológico e superior foram interiorizadas e expandidas, ainda que de forma acelerada demais e sem o devido cuidado orçamentário e qualitativo.
O pobre e o miserável começaram a mudar de classe social e a situação do povo brasileiro mudou.
Os avanços, porém, não foram exclusividade do governo Lula e Dilma. Foram resultados de todos os governos desde a redemocratização. Se o Governo Collor não tivesse aberto as fronteiras brasileiras para o mercado internacional jamais o smartphone e os carros importados teriam entrado na vida dos brasileiros e diversos setores da economia teria sido aquecido ou desenvolvido, como o automobilístico e seus braços (solda, metalmecânica, mecânica, etc) e o eletrônico, e cursos como os de engenharia eletrônica, engenharia de computação e seus variantes, engenharia de materiais, engenharia aeroespacial, biomedicina jamais poderiam ter surgido ou se desenvolvido sem uma indústria que os requisitasse. O Governo FHC permitiu, através do plano real, a valorização da moeda nacional e o equilíbrio, deficiente, das contas públicas e iniciou o processo de combate à fome e distribuição de renda através de programas como o Vale-Gás e o Bolsa Escola. O Governo Lula unificou o Vale-Gás e o Bolsa Escola e adicionou características para criar o Bolsa Família, criou outros programas para a educação e para a assistência social e vinte e cinco anos depois da redemocratização o Brasil pode mostrar, na prática e em estatísticas, o pouco bem que os governos causaram.
Agora, no quarto governo democrático, o Governo Dilma, as classes elitistas também usando a mídia criada e instruída na Ditadura, buscam a queda não de um governo ou de um partido, mas o retrocesso do povo brasileiro, do qual, ironicamente, também fazem parte, para que haja o velho sistema de castas em que a empregada não podia ter um filho engenheiro, médico, professor, doutor; em que o porteiro não podia viajar a Paris, mas apenas sonhar em voltar para o sertão seco onde crianças morriam de fome e de doenças para as quais a cura existe desde o início do século XX.
O que se vê no Brasil é a velha crise moral em que a classes média e rica precisam subjugar o pobre e o miserável para sentir-se proprietária dos direitos humanos e da lei. Na sociedade imoral que sobreviveu é possível ver pobres que antes não tinha casa, comida, educação e oportunidades brigando para voltar à estaca da mendicância e ricos, ao lado desses pobres, nas ruas, pedindo o mesmo.
Como parte da América Latina, o Brasil não está imune à corrupção e tem, ao mesmo tempo, lutado e fomentado-a desde a redemocratização e foi por isso que derrubou o Governo Collor, perdoou o Governo FHC, aplaudiu o Governo Lula e agora pede a crucificação do Governo Dilma. O brasileiro não está acostumado a ver combatida a corrupção. Não está digno de solicitar e acompanhar denúncias contra vereadores, prefeitos, deputados, governadores e gestores públicos. O brasileiro, de forma imoral, está acostumado a ficar em casa esperando que a televisão mande-o sair às ruas marchar e gritar palavras de ordem das quais desconhece o significado e o objetivo.
Toda a América Latina vive um processo de luta conta governos corruptos. Porém, só no Brasil o povo elege repetidamente corruptos suspeitos e condenados para ocupar uma cadeira no Congresso Nacional e aplaudi-los enquanto eles, claramente, deturpam e corrompem os poderes harmônicos da República.
O Brasil precisa de heróis morais, prender os corruptos e ladrões e tomar o rumo da ética e do discernimento para a construção de uma sociedade moralmente justa.
Tudo o que se houve e vê nos meios de comunicação são manipulações, verdades, irrealidades e interesses escusos que ora vem à luz ora desaparecem. O povo brasileiro deveria, não apenas na copa, lutar por si e não por políticos e partidos que deveriam, em tese, servir à nação.