“O Fortes Raízes foi um divisor de águas. Mudou muita coisa na minha vida. Mudou a minha autoestima e a minha forma de ver a vida”. Esse é um trecho do depoimento de Margareth Lima, dona de casa, durante o evento que marcou o encerramento das atividades do projeto Fortes Raízes, do Sesc, em 2024. A culminância foi realizada na tarde desta sexta-feira (6), no Senac Poço. Na ocasião, assim como Margareth, dezenas de mulheres receberam o certificado de conclusão do projeto.

O certificado atesta a participação delas nas oficinas semanais promovidas pelo Fortes Raízes, de julho a novembro, no Instituto Mandaver e na Associação Educacional e Assistencial Casa dos Amarelinhos (O Consolador), localizados, respectivamente, nos bairros do Vergel do Lago e do Prado, em Maceió. Nesse período, as atividades educativas exploraram as temáticas Empoderamento Feminino, O Papel da Mulher na Sociedade, Gênero e Sexualidade, Mulheres e Saúde Mental, Tipos de Violências, Racismo, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos, Legislação, Saúde das Mulheres, História das Mulheres e Movimento de Mulheres.

As mulheres acolhidas pelo projeto possuem histórias individuais, mas com pontos em comum. Todas estão em situação de vulnerabilidade socioeconômica, ou de violência doméstica, mas tinham acesso limitado a informações que podem ser determinantes, tanto para a saúde delas quanto para o pedido de socorro, quando são vítimas de algum tipo de agressão, inclusive, no ambiente familiar.

“Existem muitas mulheres que são coagidas dentro da própria casa, passando por violências e não sabem o que fazer, a quem pedir a ajuda. Quando passei por isso, tive um tempo de silêncio. E o Fortes Raízes me mostrou que existe a Casa da Mulher Alagoana e todos os caminhos que eu precisava percorrer para ser ouvida. No projeto, eu entendi que juntas somos mais fortes e que eu posso ter voz na sociedade. As portas vão se abrindo, porque a gente está indo para o lugar certo”, relatou uma participante que preferiu não ter a sua identidade revelada.

Ligada ao Poder Judiciário de Alagoas, a Casa da Mulher Alagoana presta atendimento especializado e humanizado, além de assistência psicossocial e abrigo temporário, a mulheres vítimas de violência doméstica. A visita ao espaço foi uma das atividades desenvolvida pelo Fortes Raízes além das oficinas. Por meio do projeto, as mulheres também tiveram acesso a programações de lazer no Sesc Guaxuma, a passeios turísticos em Maceió e Marechal Deodoro, a aulas de dança e a uma prova exclusiva no Circuito Sesc de Corridas 2024.

Além disso, na Arena do Empoderamento Feminino, realizada em agosto pelo Tribunal de Justiça de Alagoas (TJ/AL), em parceria com o Sistema Fecomércio-Sesc-Senac Alagoas, as participantes tiveram acesso a oficinas profissionalizantes, assessoria jurídica e serviços de saúde e beleza.

A presidente do Instituto Mandaver, Lisania Pereira, compareceu à culminância do Fortes Raízes e destacou o impacto do projeto na vida das mulheres acolhidas. “O Mandaver já tem um olhar muito carinhoso para as mulheres, não só pelas vulnerabilidades, mas pelas potencialidades delas. Essas mulheres são, em grande maioria, responsáveis pelo sustento das famílias e o projeto proporcionou um resgate da autoestima, da saúde mental, mas principalmente dos direitos delas. A gente vê o resultado disso no transbordar de bem-estar após a finalização das atividades”, afirmou.

Também presente no evento, a assistente social da O Consolador, Nelma Lúcia Silva, frisou a importância do projeto para as mulheres da comunidade. “Foi um trabalho muito importante, porque o bairro onde elas moram é um bairro onde a violência é muito gritante. A gente ficou muito feliz em fazer esse trabalho e o impacto na vida delas hoje é muito visível, porque muitas delas viviam dentro dessa violência desde muito tempo e, hoje, já sabem dizer não, quando é preciso, para buscar ajuda diante da violência. Hoje, são mulheres empoderadas, conscientes dos seus deveres e da sua missão na sociedade”, disse.

Programação da culminância

Além da entrega de certificados, o evento de encerramento contou, também, com a palestra “Mulheres e a importância de prevenir”, proferida pela professora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Marli Araújo, e com uma Retrospectiva das atividades desenvolvidas pelo projeto Fortes Raízes, conduzida pela assistente social do Sesc Alagoas, Mabel Araújo. Houve, ainda, um momento para depoimentos de alguas participantes e, por fim, um lanche coletivo.

Parceria com o MP/AL

Em agosto de 2024, o Sesc Alagoas assinou um Termo de Cooperação com o Ministério Público do Estado de Alagoas (MP/AL), com o intuito de ampliar a atuação do Fortes Raízes, por meio de ações educativas focadas em orientar mulheres em situação de violência doméstica. A parceria também prevê a aplicação do Formulário de Avaliação de Risco (Fonar), com a finalidade de verificar se as mulheres acolhidas pelo projeto estão expostas a situações de agressão, no ambiente familiar.

“O Sesc tem um trabalho consolidado, mas a gente tem um limite de atuação. Nos casos de violência doméstica, a gente tem um trabalho educativo, de provocar reflexões, de falar sobre os tipos de violência, de mostrar que essa violência pode ser evitável, mas a gente tem um limite no sentido da punição e do enquadramento da lei. E nesse sentido, a gente assinou esse Termo de Cooperação a fim de que o Ministério público pudesse apoiar o Sesc nos casos em que a violência doméstica fosse identificada dentro do Fortes Raízes, já que esse é o motivo pelo qual o projeto existe”, explico a gerente de Saúde do Sesc, Janaína Valença.

Após a aplicação do Fonar, ao ser identificada alguma situação que viole os direitos da mulher, o MP/AL irá assegurar os encaminhamentos necessários, por meio da 38ª Promotoria de Justiça da Capital. O Termo de Cooperação Nº AL-2024-TCOO-018 tem vigência de 12 meses, podendo ser renovado.