LITERATURA

Livro e exposição da artista alagoana Tania Pedrosa são atrações no Rio de Janeiro

Por Mario Lima / Assessoria de Comunicação Publicado em 06/12/2024 às 16:21
Artista alagoana Tania de Maya Pedrosa Divulgação

O Centro Sebrae de Referência do Artesanato Brasileiro (CRAB), em parceria com o Sebrae Alagoas e Sebrae Nacional, apresenta a exposição Das Lagoas ao Imaginário Popular, em homenagem à artista alagoana Tania de Maya Pedrosa, a partir do dia 11 de dezembro, na Praça Tiradentes, centro do Rio de Janeiro, sede do CRAB. Aos 90 anos, Tania é uma referência na arte brasileira, conhecida por sua pintura naïf, e uma das maiores representantes do gênero. Tania Pedrosa tem obras consagradas em salões de arte e bienais no Brasil e na Europa.


Durante a exposição será lançado o livro Arte Popular de Alagoas, de Tania Pedrosa. Uma obra icônica que teve seu lançamento original em 2000. Após 24 anos da publicação, a obra foi remodelada, revista e atualizada, com apoio do Governo de Alagoas, por meio da impressão do livro pela Imprensa Oficial Graciliano Ramos. A obra traz novos olhares sobre a arte e a cultura popular de Alagoas e do Nordeste. A publicação tem um arrojado projeto gráfico (com ilustrações e fotos), lindo acabamento, e artigos autorais sobre Arte Popular, de especialistas no assunto, como Adélia Borges, Laurent Danchin, Ceres Franco, Augusto Luitgards, Pedro Cruz.

 

A EXPOSIÇÃO

A mostra está organizada em quatro espaços que levam o visitante a uma viagem pela história e riqueza cultural de Alagoas, entre eles o “Sertão Sempre Vivo", com obras que revelam o olhar de Tania sobre o Sertão, com peças que refletem o universo árido e forte dessa região. Entre outras atrações estão obras de artistas ligados aos principais centros de arte popular de Alagoas, como os escultores em madeira da Ilha do Ferro e Lagoa da Canoa; no Sertão; o polo ceramista artesanal de Capela e os mestres da madeira de Boca da Mata. A mostra ficará em exibição até o início de março de 2025.

A exposição que chega ao Rio de Janeiro, já esteve em cartaz em Paraty (RJ) e Maceió (AL), em 2023. Na exposição Tania Pedrosa foi pintada e bordada por mais de sessenta artistas de todas as regiões do país e apresentada na exposição “Das Lagoas ao Imaginário Popular: Tributo aos 90 anos de Tânia de Maya Pedrosa”, com curadoria de André Cunha e Parísina Ribeiro. “Sinto na alma um sentimento de felicidade, pela homenagem. É como se me transportasse ao começo de tudo, rejuvenescida em sonhos, na minha infância e juventude, quando comecei a criar minhas bonecas de pano, meus tapetinhos bordados, minhas pinturas ingênuas, vida a fora”, escreveu Tânia no livreto da exposição.

O superintendente do Sebrae Nacional, Vinicius Lages, destacou que esta é uma amostra do trabalho de Tania de Maya Pedrosa, artista plástica e militante da cultura. Segundo ele, "Tania nos revelou muitos artistas populares e artesãos, não só em Alagoas, mas em todo o Brasil, devido ao seu diálogo regional e nacional". Lages ressaltou que a artista foi capaz de "trazer da invisibilidade muitos artistas e artesãos", contribuindo para a valorização do artesanato e da arte popular. Através de sua arte naïf, Tania alia suas pinturas e quadros à representação dessa cultura popular e artesanal, em um trabalho que mescla o material com o imaterial, refletindo a alma alagoana.

Para o curador da exposição no CRAB, André Cunha, assinala que a proposta da curadoria da exposição é evidenciar a real afinidade da artista com a arte popular e o artesanato brasileiros. “Essa identificação é traduzida em um cordel prenhe de toda a poética que caracteriza o gênero. A mostra destaca não só a significativa produção artística de Tania, mas a expressividade de sua coleção de arte popular, constituída ao longo dos últimos cinquenta anos e que ainda está em expansão”.

A mostra ficará em exibição até o início de março de 2025, possibilitando aos visitantes apreciarem a profundidade da cultura alagoana. Além da mostra, algumas peças de artesãos que estão representadas na Mostra estarão disponíveis para compra na loja do CRAB, permitindo que o público leve um pouco da arte alagoana para casa.

 A COLEÇÃO

O acervo de obras populares de Tania celebra a cultura alagoana, mas reúne tesouros de outros grandes artistas populares nacionais, como Vitalino e seus descendentes, de Caruaru (PE), Zezinho de Tracunhaém (PE). Seu acervo inclui produções de mestres artesãos e revela o cotidiano e a identidade do povo nordestino. A mostra "Das Lagoas ao Imaginário Popular" oferece ao público carioca a oportunidade de conhecer esse legado por meio de obras de artistas da Ilha do Ferro, Lagoa da Canoa e Capela, dentre outras. Ente os artistas alagoanos com obras na exposição estão: a cerâmica de João das Alagoas, Sil de Capela e dona Irinéia; os objetos de madeiras de seu Fernando da Ilha do Ferro, Manoel da Marinheira, Antônio de Dedé e Raimundo, de Lagoa da Canoa; a arte ribeirinha franciscana de Resêndio.

A ARTISTA

Filha de Paulo de Ramalho Pedrosa, ecologista pioneiro de Alagoas, e Benita Mathilde de Maya Pedro- sa, professora de piano clássico, Tânia de Maya Pedrosa nasceu em Maceió, em 27 de outubro de 1933. Na infância foi uma senhorinha na casa grande da família, com aulas de piano e violão impostas pela mãe. Na juventude iniciou, por volta dos 14 anos, seu processo de “libertação” dos hábitos burgueses. “Minha mãe só comprava aquelas revistas Sabrinas. Eu tinha que esconder os livros cuja leituras me influenciaram. Então fui mudando e fiquei mais astuta. Queria liberdade, uma coisa diferente em minha vida. Esse foi o momento de ruptura”, recorda. Destinada a romper com as tradições a que lhe eram impostas pelo tempo e meio social em que vivia, a artista mudou os rumos da sua história através da arte. Transitou pela literatura, moda e finalmente pela pintura. E foi com a arte Naïf que encontrou prazer na vida e vem percorrendo esse caminho de descobertas, cores e saberes.

As pinturas de Tânia se destacam pelas cores majestosas e pelos desenhos de traços simples, carregados de um universo simbólico nordestino, com referências às crendices populares e tradições religiosas, sendo ela uma cronista que interpreta e transpõe para as telas a realidade em que vive e respira. Segundo André Cunha, a obra de Tânia é uma explosão de talento em seu universo simbólico, praticamente uma expressão muito própria dela mesmo. “Tânia tem uma produção visceral, e não vem programada para agradar à crítica e ao público. Tem sua maneira de ler a cultura brasileira, ler o Nordeste, ler o Cangaço e a religiosidade popular”, enfatiza Cunha.