No dia 4 de agosto de 1990 – um dia depois da data que se institucionalizou como a formatura da turma Maria Quitéria de Jesus –, o extinto Jornal de Alagoas, veículo dos Diários Associados de Assis Chateaubriand, estampou em sua primeira página a submanchete “Mulheres ampliam mercado de trabalho integrando quadros da Polícia Militar”. No jargão jornalístico, a submanchete designa a segunda notícia mais importante de um jornal, perdendo em relevância apenas da manchete.

Naquele dia, a principal matéria do jornal de Assis Chateaubriand não seria local. Traria, sob o título de “Aposentado pode ter abono de 3 mil”, a informação direto de Brasília de que o governo iria analisar a possibilidade de estender aos aposentados e pensionistas o abono de até 3 mil cruzeiros – a então moeda da época.

Além da manchete, a primeira página do Jornal de Alagoas trazia outras onze chamadas e duas fotografias. A primeira, do soldado reformado da PM Jandilson Fonseca, acusado, segundo o periódico, como um dos integrantes de um grupo de extermínio. Na imagem registrada pelo fotógrafo Waldemir Santiago, Jandilson aparece de cabeça baixa, lendo um jornal. “O soldado Fonseca negou ter cometido crimes, mas permanece preso”, dizia a legenda.

Na outra imagem – maior e sem autoria - as 35 primeiras policiais militares de Alagoas aparecem em posição de sentido, com a legenda “a primeira turma de mulheres da PM concluiu o curso ontem”. “As mulheres alagoanas concretizaram ontem um considerável avanço no mercado de trabalho, com a formatura de 35 representantes no curso de soldado da Polícia Militar de Alagoas. ‘É a derrubada da barreira em relação à integração de mulheres na nossa polícia, que recebe uma injeção de sangue novo em busca de melhorar sua missão constitucional’, disse o coronel Sá Rocha”, trazia texto de primeira página, numa referência à fala do então comandante-geral da Polícia Militar de Alagoas.

O texto continuava: “Além das 35 mulheres, 89 homens foram diplomados para integrar os quadros da PM em defesa da sociedade alagoana. As mulheres foram preparadas para executar o mesmo trabalho dos homens, mas irão se dedicar especialmente aos problemas que envolvem menores e mulheres, segundo explicou o comandante-geral da PM”.

A notícia de primeira página se encerrava com uma fala de uma das pioneiras. “‘Meu sonho era ser polícia feminina. E consegui realizá-lo’”, disse Sônia, na solenidade de formatura, no Centro de Formação da PM. 

Dia da Polícia Feminina

Embora o Jornal de Alagoas tenha noticiado que a primeira turma de mulheres se formou no dia 3 de agosto de 1990, o Governo de Alagoas instituiu a data de 28 de novembro como o Dia da Policial Feminina do Estado de Alagoas. De acordo com a Lei nº 8.118, de 21 de junho de 2019, a data seria o dia da formatura da turma Maria Quitéria de Jesus. “O dia 28 de novembro foi a data em que as mulheres ingressaram na PM, não o dia da formatura”, ressalta Fernanda Alves.