“Mas é preciso ter força, é preciso ter graça, é preciso ter sonho sempre”
Passados 34 anos de formatura das primeiras policiais militares de
Alagoas, as 35 soldados que desbravaram os caminhos da polícia feminina no
estado têm seu reconhecimento na história da Polícia Militar graças à
ressignificação dada por Fernanda Alves Calheiros. Depois delas, a instituição
recebeu centenas de outras policiais.
Atualmente, dos 7.722 militares que integram a PM de Alagoas, 1.303 são mulheres, o que representa 16,87% do total. Hoje, 119 delas são oficiais, 1.184 são praças (90,87) delas) e 403 estão na inatividade – seja na reserva remunerada ou reformadas.
Fernanda Alves Calheiros lembra que também há mulheres ocupando cargos estratégicos na PM, como a coronel Joana D’Arc, enfermeira da polícia e subdiretora de Saúde da instituição, e a tenente-coronel Josiene Lima – a primeira mulher combatente a integrar o quadro de alto comando –, atualmente diretora de Comunicação da corporação.
“A própria coronel Josiene também protagonizou outro marco da história da mulher na PM, ao assumir o comando do Batalhão de Polícia Rodoviária, [BPRv] se tornando a primeira mulher a comandar uma unidade operacional especializada”, informa.
No dia 27 de maio deste ano, mais 182 mulheres passaram a integrar os quadros da PM de Alagoas, graça à formatura de 923 novos policiais militares do Curso de Formação de Praças (CFP). O evento, ocorrido no Ginásio do Sesi, em Maceió, teve honras de Estado, com a presença do governador Paulo Dantas, do comandante da PM, coronel Paulo Amorim, e do secretário de Estado de Segurança, Flávio Saraiva.
“Cada um desses homens e mulheres traz consigo a esperança de dias melhores e mais seguros para todos os alagoanos”, discursou o governador, diante de um ginásio lotado de amigos e familiares dos formados. “É com o trabalho de homens e mulheres, que agora recebem o reforço de vocês, que vamos manter Alagoas como um estado seguro”, ressaltou Paulo Dantas, voltando para os novos policiais.
Em seu discurso, o comandante Paulo Amorim lembrou dos dias difíceis que antecederam a formatura dos novos policiais. “Só vocês sabem da luta e das dificuldades que cada um aqui enfrentou para este momento, inclusive alguns distantes de seus familiares. É uma honra para mim comandar todos vocês, porque é na bravura de homens e mulheres que fazemos um estado seguro para todos”, disse.
O discurso do coronel Paulo Amorim poderia facilmente estar se referindo à turma Maria Quitéria de Jesus – se estivéssemos em 1990 –, que lutou por um sonho que até então nenhuma mulher havia sonhado. Naquele dia, no Ginásio do Sesi, era visível o orgulho no olhar dos mais de 900 novos policiais – em especial no olhar feminino das 183 praças, algumas delas com Maria no nome, como as 16 das 35 policiais pioneiras.
Especialmente naquele dia, seria absolutamente crível que alguém no ginásio lotado estivesse entoando, mesmo que mentalmente, a canção “Maria, Maria”, de Milton Nascimento e Fernando Brant. Lançada no icônico álbum Clube da Esquina 2, de 1978, a música fala sobre a luta, a resiliência e a força da mulher. “Mas é preciso ter força, é preciso ter graça, é preciso ter sonho sempre”, diz os versos da canção. E isso era tudo o que a turma Maria Quitéria de Jesus tinha.