Os anos de 2008 e 2009 foram mais do que especiais para Salvador Cabañas. Ídolo do América do México e principal atacante da seleção paraguaia, o “gordinho” foi um pesadelo para o Flamengo nas oitavas da Libertadores (ajudou a reverter a desvantagem de 2 a 4 em pleno Maracanã com dois gols na vitória por 3 a 0) e ainda deixou sua marca contra o Brasil no último duelo pelas eliminatórias em Assunção oito anos atrás, na primeira passagem de Dunga como técnico.
Então, em janeiro de 2010, após uma briga em uma boate da Cidade do México, Cabañas levou um tiro na cabeça de um traficante. A bala passou por sua cabeça e está alojada até hoje ali, sem porém ter atingido áreas vitais do cérebro. O jogador que tinha uma Copa do Mundo pela frente para brilhar aos 30 anos acabou lutando para viver.
Foram quatro meses de recuperação até finalmente receber alta, e todos acreditavam que sua carreira nos gramados havia acabado. Em partes, sim.
E sua força de vontade impressionou. Ele chegou a jogar por um time da terceira divisão do Paraguai, chegou a ser anunciado pelo Tanabi – time do interior do São Paulo – em 2014, porém não joga mais profissionalmente há quatro anos.
Hoje, Salvador Cabañas vive em Itaugua, cidade a 40 quilômetros da capital Assunção, junto a seus pais e atua de vez em quando em jogos festivos – como o que fez na semana passada nos Estados Unidos. Senhor Dionisio possui uma padaria no local, mas garante que o atacante não trabalha para ele.
© Getty Cabañas acabou com o Flamengo em pleno Maracanã na Libertadores de 2008
“Ele não trabalha na padaria, e sim ajuda a família, também ali. Nós trabalhamos para ele. Graças a Deus não passamos dificuldades desde que tudo aconteceu”, afirmou o pai em entrevista ao ESPN.com.br na última segunda-feira.
Sobre o fatídico dia em que seu filho quase perdeu a vida, ele revelou ainda querer respostas. “Nós não sabemos o que aconteceu. Salvador sempre falou ‘fiquem tranquilos, mãe e pai’, e de repente aconteceu isso. Ainda procuramos explicação”.
O sonho de retornar aos gramados, porém, ainda está com Cabañas, admitiu o pai. Mas há um problema que complica sua realização.
“Ele ainda quer jogar futebol profissional, mas está impedido. Salvador tem um problema no olho esquerdo, e isso o incomoda, dói muito, e por isso não pode jogar”, revelou.
O que mais chateia o senhor Dionísio – e toda a sua família – é a falta de apoio daqueles que um dia beberam da felicidade de Salvador Cabañas. Por exemplo, do América-MEX e da associação paraguaia de futebol (APF).
© Getty Salvador Cabañas e seu pai, Dionísio, em 2014
“Eles sabem tudo do problema de Salvador, e até este momento não ajudam”, falou. “Nem seus companheiros de seleção vieram vê-lo. Isso incomoda a família. Antes ele era amigo para tudo, mas agora que Salvador ficou assim, nem para dizer ‘oi’ aparecem. Nada”, contou.
Cabañas ainda teve outros percalços desde 2010, como o dinheiro que perdeu para seu então empresário e sua ex-mulher. O caso corre na Justiça e ainda aguarda decisão.
Para Dionísio, o que mais importa agora é a felicidade de seu filho.
“Nem sempre ele vai conseguir o que ainda quer, e nós da família vamos apoiá-lo. Jogar futebol outra vez é difícil para ele, mas queremos que seja feliz”, disse o pai.