A festa é dele, mas quem vai receber o presente são os bateristas participantes do evento em comemoração aos 40 anos de carreira de Carlos Bala. Produzido pelo SOS Batera, no workshop ‘Bala 4.0’, que vai acontecer hoje à noite, no Teatro de Arena, em Maceió, o músico vai mostrar toda a versatilidade, técnica, ritmos e experiência, conquistados ao longo de tantos anos de trabalho.
E não dá para imaginar o Bala tocando outro instrumento. Mas com 16 anos, o ‘mestre’, como é chamado carinhosamente por tantos admiradores, fez uma tentativa de entrar para o mundo da música com um contrabaixo na mão. Mesmo já tendo contato com a ‘máquina’ percussiva, por causa do irmão, Beto Batera.
Segundo Bala, na época, a banda de música da faculdade de Filosofia, em Maceió, realizava testes para a contratação de um baixista e ele decidiu se inscrever. Mas quando chegou ao local, desistiu. “Na fila tinha, pelo menos, seis grandes baixistas que também iam fazer o teste. Então, vi que eu não teria a menor chance de competir com eles e decidi voltar para casa”, contou.
Sem expectativa de ingressar em algum grupo musical, Bala colocou o baixo de lado e começou a frequentar os ensaios da banda LSD, que tinha como um dos fundadores o Beto Batera. “O Beto não gostava de ensaiar (risos). Todas as vezes ele pedia para que eu ficasse em seu lugar, enquanto saía de moto para namorar. Eu aprendi a tocar vendo o Beto executar o instrumento, mas nunca tive nenhuma aula”, garantiu. “De tanto ensaiar no lugar dele, aprendi o repertório da banda, e o substituí quando ele sofreu um acidente de moto”, completou.
Depois desta oportunidade, Bala começou a tocar como baterista profissional, nos clubes de Maceió, em um período onde as bandas de baile lotavam as casas noturnas da cidade. “Em três anos, toquei em bandas como Normais, Grupo Seis e também no LSD. Sempre nas bandas que tinham contratos fixos com os clubes da cidade”, destacou.
Em Recife cursou Nutrição
Após estes três anos, Bala percebeu que tinha que realizar novas conquistas, estudar mais e se dedicar a outra atividade, além da música. Então, foi para Recife estudar Nutrição. “Eu tinha que sair da aba do meu pai e ganhar mais dinheiro. Acreditei que com os estudos, em uma Universidade, eu ia ter isso, no futuro. Por causa da Nutrição, fiquei dois anos sem tocar”, lamentou.
Mas a bateria estava mesmo destinada a esse grande artista. Movido pela paixão pela música, Bala conquistou espaço em uma banda, na cidade de João Pessoa, na Paraíba, e voltou a tocar. “Eu viajava nos finais de semana. E lá, na segunda-feira, fazia aula de solfejo rítmico com o professor Dimas Sedícias, no Conservatório de Música Paraibano. E dessa forma ia conciliando o trabalho com os estudos”, explicou.
Veio, então, o cansaço. As idas e vindas, entre Recife e João Pessoa, fizeram com que Carlos Bala optasse pela música, para a felicidade dos fãs do ‘mestre’, em todo o mundo. “O professor Dimas indicou outro professor para me dar aulas em Recife. E em seguida, entrei para a Orquestra Romançal, idealizada por Ariano Suassuna, e também como estagiário na Banda Municipal do Recife. Com carteira assinada e todos os direitos garantidos”, explicou Bala, entre risos.
Oito anos em São Paulo
Dessa maneira, os contatos profissionais foram surgiram e as oportunidades também. Em uma dessas, Carlos Bala foi a São Paulo tocar em uma casa de shows, no fim-de-semana. E por lá ficou durante oito anos. Gravou muitos jingles, e também participou de musicais como ‘Hello Dolly, ‘O Violinista no Telhado’ e ‘South Pacific’, e teve a oportunidade de tocar com grandes nomes da música, a exemplo de Cyro Pereira Maestros Branco e Chiquinho de Morais, Eliane Elias, Guilherme Vergueiro, Nico Assumpção e Laércio de Freitas.
Homem Bala
E foi Laércio de Freitas o responsável pelo apelido que tornou Carlos Bala mundialmente conhecido. “Nos preparávamos para gravar um disco e eu adoeci. Tive que passar vinte e cinco dias de molho. Quando pude sair de casa, estava muito frio. Vesti um casaco, gorro, luvas e calça, tudo preto, e fui para o estúdio Eldorado. Quando saí do elevador, dei de cara com o Laércio, que disse que eu estava parecendo o homem bala, do circo. E daí por diante, todo mundo começou a me chamar assim. Depois, abreviaram apenas para Bala”, relembrou o baterista.
O jazz no Rio de Janeiro
Depois de incursionar por São Paulo, no final de 1985, Carlos Bala viajou com o baixista Nico Assumpção para o Rio de Janeiro, para tocar em um projeto jazzístico que acontecia na casa de shows Jazzmania, junto com o tecladista José Roberto Bertrami, da banda Azymuth. “Isso também nos rendeu uma temporada de três meses em Los Angeles, tocando jazz”, comentou.
A música instrumental brasileira e mundial de Léo Gandelman, Luís Avellar, Márcio Montarroyos, Nivaldo Ornellas, Hélio Delmiro, Marcos Rezende, Vernon Reid, Ricardo Silveira, Arthur Maia, Cristóvão Bastos, Toots Thileman, Joey Calderazzo, Romero Lubambo, Jeff Gardner, Sérgio Mendes, Cláudio Dausberg, Kiko Continentino, Marcos Nimmerichter e Delia Fisher, foram enriquecidas com a participação de Carlos Bala. “A partir desse momento, muita coisa boa aconteceu. Tive o prazer de tocar ao lado de grandes nomes da MPB e também da música instrumental. Mas na verdade, eu que tive o prazer de tocar com essas feras todas”, disse Bala, com a humildade de sempre, uma de suas maiores características, além do virtuosismo musical.
E foi com esse talento e humildade que Carlos Bala conquistou grandes espaços dentro da música brasileira. No Rio, ele tocou com Gal Costa, Marina Lima, Emílio Santiago, Simone, João Bosco, Alcione, Leila Pinheiro, Maria Bethânia, Sandra de Sá, Filó Machado, Miúcha, Nana Caymmi, Caetano Veloso, Chico Buarque e Djavan, com quem trabalha no momento.
“Tive dois momentos com o Djavan. No primeiro, em 1989, eu tinha ido a um estúdio, no Rio, para gravar a música ‘Tanta Saudade’, do Chico Buarque, e que tinha como participação especial o Djavan. Quando eu cheguei para gravar vi que a banda do Djavan estava por lá. Pensei que estivesse no local errado, mas eles disseram que também iam fazer parte da gravação. Entramos, gravamos a música e quando terminamos, o Djavan me chamou pra fazer parte da banda dele e iniciar a turnê do CD Oceano. Fiz parte dessa banda por onze anos”, explicou.
“O segundo momento, foi em 2011. O Djavan convidou quase a mesma formação da turnê Oceano para voltar a tocar com ele. Paulinho Callazans, Glauton Campello e Marcelo Martins, também fizeram parte do primeiro momento, e também voltaram a tocar com o Djavan nesse segundo momento, já com a gravação e a turnê do CD Rua dos Amores. Agora, estamos aguardando a finalização do novo trabalho do chefe, que vai ser lançado ainda este ano, para começarmos os ensaios, previstos para o mês de setembro, e iniciarmos a temporada de shows”, destacou.
Enquanto setembro não chega, Carlos Bala segue com os projetos em andamento na cidade de Maceió, como o Ricardo Lopes Trio, e a realização de workshops em várias partes do País. Mas ele garante que o da próxima terça-feira, dia 7, vai ter um gostinho especial. “São quarenta anos de estrada, e comemorar isso na minha cidade, com tantos amigos queridos, vai ser maravilhoso. Lamento o meu irmão Beto Batera, minha referência de bateria, não estar mais entre nós. Mas vai ser uma comemoração linda, com muita música, como deve ser”, finalizou.
Workshop comemora 40 anos
O workshop Bala 4.0, em comemoração aos 40 anos de carreira de Carlos Bala acontece hoje, dia 7 de julho, às 19h, no Teatro de Arena, anexo ao Teatro Deodoro. Os ingressos estão à venda, no local, por R$ 15.